sábado, 26 de outubro de 2013

CEMITÉRIO DE LA RECOLETA





Quase todos os dias quando vejo o meu irmão, pergunto a ele: “E então, fizesse algo digno de se estar em sua biografia ou de contar para os netos?”. Digo isso já sabendo de antemão da canalhice que é perguntar isso para qualquer mortal, quanto mais para um menino de quatorze anos. Ele nunca me perguntou isso de volta. Mas se alguém ousasse, diria hoje que sim, que no dia 26 de outubro de 2013 se eu fiz algo digno de ser lembrado por historiadores (e até difamadores) de minha persona.


Adianto para aqueles de estômago fraco, de sensibilidade extrema, que tenha medo de fantasmas, que sejam espiritas ou pobres de espírito, aquelas estiverem afim desse cronista ou até mesmo se for a mãe dele, peço que por favor parem por aqui. Ah, e se você for família de alguém chamada Esther O. Martinez de Arrebalde também é bom que não leia mais esse texto.


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Hoje foi um dia histórico para mim, não por que andei quase treze quilometro a pé ou porque finalmente paguei um preço decente por um café com leite em Buenos Aires (8 pesos), e muito menos porque uma chica disse que eu era “hermoso” no metro. Mas sim porque meus caros, eu visitei a casa de pessoas como o do escritor Adolfo Bioy Casares (amiguíssimo de J.L Borges), Evita Perón e de Cosme Argerich que soube depois ter sido um dos primeiros professores de medicina da Argentina, e todos esses jazem no cemitério ‘de la Recoleta’, no bairro de mesmo nome. É um cemitério como outro qualquer, desde que você não se importe ver pessoas batendo fotos de tudo e de todos: Dos passantes xeretando os túmulos, das flores murchas, dos jazigos tão decorados que fariam a inveja de muitos hotéis no Brasil, das estatuas que decoram e zelam os túmulos. O túmulo da ex-primeira dama Evita Perón é o mais procurado. Um senhor disse que o túmulo é mais visitado que o próprio museu da coitada. Fico imaginando o imenso aborrecimento que dona Perón e seus vizinhos menos abastados de fama e carisma devem passar com aquele barulho, as piadas sobre ela, os fãs de Madonna (havia uma moça com a camisa da cantora que a interpretou no cinema), com um desalmado fazendo xixi por de trás do túmulo de sua amiga Esther Martinez e com os guias cobrando os olhos da cara dos vivos por narrações da enciclopédia Barsa... O zelador do banheiro do cemitério, que não cobra mas exige que se pague para usar o banheiro, garantiu que a noite se escutam lamentos nas ruas adjacentes ao cemitério. Só não deve ser o caso da rua de trás e de seus botecos abertos vinte e quatro horas.


Mas creio que Dona Evita e seus ‘cumpadritos’ devem reclamar que nem flores as pessoas levam, fazer planos para afugentar os vendedores de balões ou até mesmo que Madona é Madona e Evita é Evita. Ah, já ia esquecendo o tal do fato histórico tão alardeado lá no começo. Nem vale a pena contar, tô com vergonha agora. Mas sabe o desalmado do xixi em pleno Cemitério de la Recoleta? – Então...

Cid Brasil

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