segunda-feira, 11 de novembro de 2013

VIRANDO PRAÇA



(Atul Bhalla)



Eu sempre achei que quando terminasse de escrever o meu romance, eu chegaria aqui e escreveria algo como querendo descansar, ou até mesmo postaria uma foto numa rede. Mas hoje, após ter revisado ele e ter a certeza que finalmente posso dizer que escrevi um livro, não tenho vontade de botar foto em rede, ir encher a cara, muito menos entrar numa orgia comemorativa. É como se os pequenos sinais após a semana inteira que fiquei revisando-o, fora os quatro meses em que fui completamente (e unicamente) toda a história passada no Café Grão de Paris, me dessem a certeza que um livro só acaba quando ele é finalmente publicado e se vai de minha gaveta, das nuvens ou de meus arquivos.

Deve ser a mesma coisa com uma mãe que alimenta, educa, veste, dá banho, limpa, lhe dá umas traulitadas de vez em quando, paga colégio, afugenta pretendentes folgados, assopra as feridas... Enfim, cria e se julga dono - E com certa razão. - Mas um belo dia ele passa pela porta e não volta mais.

Ou, abusando aqui dos clichês – Por favor, me permitam isso, por ora que não tenho compromissos com narradores, personagens ou enredos – Com uma planta onde o maluco veste macacão, paga mico de calçar botas de borracha e segurar ancinhos e mangueiras enquanto joga umas sementes num solo e reza se for dos que rezam; dançam se for dos que dançam ou conversam se for dos que conversam com a bendita planta. Depois ele vai, mete a mão onde não deve chamando aquilo de adubo e rega, rega e rega. – E conversa, dança, reza e rega protegendo aqueles galhinhos finos. Até que um belo dia, já árvore frondosa – Permita-me leitor, usar a palavra frondosa agora que por ora não tenho mais compromissos com diálogos concisos ou metáforas originais. – Então, alguém chega na árvore já frondosa e verdejante e lhe tasca um balanço ou um machado ou uma cerca, e diz que aquilo agora é praça.

Pois é tô assim, me sentindo meio praça desde que terminei e escrevi uma crônica chamada “terminei”. Sou apressado, na verdade nem pra me perceber direito eu presto. O que tô sentindo é o mesmo de quando agente faz uma puta viagem longa e chega ao destino e dias depois, talvez até meses, perceba que bom mesmo foi o caminho. Daí agente volta. Deve ter sido por isso que revisei o romance, acrescentei pouca coisa e só reordenei alguns capítulos. Realmente eu tinha terminado lá quando falei. É o que percebo agora já no fim da viagem, bem no meio do lugar virando praça, quando o filho começa a querer ir pra balada sozinho de que o que devo fazer é voltar. – Ou no meu caso, voltar significa escrever outro livro. Gostaria muito de dizer sobre o que é que quero escrever agora, mas quem tem filho, já escreveu um livro ou já plantou uma árvore sabe que no começo agente quer tudo e depois essas coisas ganham vida própria, folhas próprias ou situações próprias. 

Viram praça, fazem outros filhos, escrevem outros livros e crescem reproduzem e depois morrem. É... A professora Geilda tinha razão lá na primeira série, creio que na mesma semana em que ela ensinou isso, todo mundo também aprendeu a ler.

Sei não, talvez amanhã eu comece outro, ou simplesmente vá ao cinema pra diminuir esse descampado, essa página em branco ou esse quarto vazio. Por enquanto, quem conhecer ou for dono de alguma editora e quiser conversar. É só gritar.


Cid Brasil

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