quinta-feira, 1 de setembro de 2016

TRUE DETECTIVE



(Greg Ruth)


-- Pronto!
-- Alô, o senhor é o famoso Detetive Luiz, aqui de Maceió?
-- Sim, pois não...
-- Eu gostaria de...
-- Mulher traída? Filho com drogas?
-- Não, pelo amor de deus é que...
-- Funcionários trapaceiros?
-- Não, não!
-- Encontrar alguém? Cidade pequena tem dessas dificuldades.
-- Não, Seu Detetive, não é nada disso.
-- O que é então, meu filho? Eu estou trabalhando.
-- Eu gostaria de saber como é a vida de um detetive, se o senhor age sozinho, se fez curso a distância, se não é broxa...
-- Quem aqui é broxa, rapaz?
-- Calma, Detetive, calma. Eu iria perguntar se não broxANTE ser detetive em Maceió e só correr atrás de mulher traída e marido putão, essas coisas de uma cidade como Mac...
-- Meu filho, só um momento...

(Sons de disparador de flash, vários tlacs, tlacs, tlacs. Detetive Luiz parece estar tirando fotos; ao fundo, barulho de carros numa avenida, de repente ele diz alô como se estivesse me atendendo de novo enquanto continuam os tlacs, tlacs de sua câmera)

-- O senhor está no meio de uma investigação agora, detetive?
-- Olha, é difícil explicar...
-- Sigilo, não é?
-- Sim. Mas você é jornalista ou o que, meu filho?
-- Não, não, sou escritor. Sabe, qual é? É que estou aqui num café e vi seu número aqui nos classificados do jornal, então queria só matar tempo enquanto minha namorada não chega.
-- Num café? Você está num café?
-- Sim, estou, mas como eu estava dizendo, seu detetive, eu queria saber como é a vida de um investigador aqui na cidade; saber se tem aquele charme todo dos livros...
-- Sei... Ô meu filho, esse café que você está não seria o Fran's?
-- É sim, por quê?
-- ...
-- Detetive?
-- Oi.
-- O senhor ainda está aí?
-- Aqui aonde? Está me vendo, por acaso?
-- Não, seu Detetive.
-- Meu amigo, você por acaso está de óculos escuros e vestindo uma camiseta vermelha?
-- Sim, Seu Detetive, estou!
-- ...
-- Espera aí, não é o senhor aí dentro de um carro preto?
-- Puta merda...
-- O senhor está me investigando, Detetive?
-- Aí, caraío! Não, meu amigo, tô sendo pago para seguir esse moço aí da outra mesa, esse conversando com uma loira. Na mesa do lado.
-- Ah...
-- É...
-- Mulher, traída?
-- Sim.
-- Posso ajudar em alguma coisa, detetive?
-- Sim, mude de mesa que nessa aí você está me atrapalhando o ângulo.
-- Cidade pequena, não é?
-- Ô...

Cid Brasil

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