terça-feira, 16 de dezembro de 2014

EU DEVERIA ESCREVER SOBRE OUTRA COISA...


(Phil Stern)



1.
Mas... Adorei essa foto. Ela é de Phil Stern, que faleceu ontem, dia 15 de dezembro, aos noventa e cinco anos. Eu não conhecia nada de Phil Stern, sua morte foi para mim como a chave de seu baú (já aberto), contendo suas belíssimas fotos em preto-e-branco carregadas com a melancolia ou a solidão de Marlon Brando, James Dean, Elizabeth Taylor e outros e outros.

2.
O personagem no corredor é Frank Sinatra, certamente no intervalo de alguma filmagem – que era como sempre agia Phil Stern – mas de Sinatra, do qual sei bem pouco, para não dizer quase nada, só conheço If You Go Away.

3.
If You Go Away, não é uma canção de Sinatra, creio que não seja de ninguém, pois ela é uma versão americana da música Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel, que também já não pertence a ele, pois os fãs de Edith Piaf dizem ser dela, só dela, assim como dizem os fanáticos por Nina Simone e os do próprio Sinatra e os de Júlio Iglesias e os de Maysa e os de outros e outros...

4.
As versões mais famosas são as gravadas em Inglês e Francês. Os franceses cantam como se estivessem ajoelhados, com o estomago doendo enquanto lavam os pés e as canelas do que se vão com lágrimas, pedindo perdão, pedindo também um mínimo de sombra, nem que seja a “da tua mão/ a do teu cão/ Não me deixes”, cantam eles ao final. Ou seja, querem ficar com um tijolinho daquela casa, para assim, poderem reconstruí-la. Para assim se levantarem.

5.
Já os americanos cantam do bar. Envergados pelo álcool, sustentados apenas pelo balcão e pelos últimos trapos de amor próprio. Cientes de que os melhores amores são aqueles com mais passado do que futuro – diria que essa é uma consciência kamikaze, mas consciência – ou seja, sabem que o amante tem mesmo é que ir, que se livrar de nós para poder respirar. E dizem, embora cogitando como todo suicida, o passo atrás: “Se você for embora, como eu sei que você deve/ não vai sobrar nada no mundo em quem confiar/ apenas um quarto vazio...”.

6.
Frank Sinatra tentou se matar umas três ou quatro vezes, por questões ligadas a sua carreira, julgava estar perdendo popularidade com a ascensão de artistas mais novos na música e no cinema. Morreu aos oitenta e dois anos, de infarte. Foi também um péssimo alcoólatra – pois há os bons, como Bukowski – e foi também, lembro agora, um grande amigo da máfia, alegrando suas festinhas em troca de favores e brodagens. Mas isso não depõe contra o Mister Blue Eyes, isso não; pois é melhor ser amigo da máfia do que da polícia, ou do governo.

Cid Brasil

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