sábado, 15 de junho de 2013

CARTA DE VINTE E CINCO ANOS ATRÁS



(René Magritte)



Caro,

Espero que está carta te encontre bem... – Olha, é um pouco estranho começar está carta assim, pois você ainda nem nasceu e daqui a algumas horas quando isso ocorrer você provavelmente vai rasga-la ou querer colocar ela na boca. Por isso, gostaria que alguém a lesse para ti e a guardasse. Peço isso, pois desejo que ela toque e comunique pelo menos este leitor.

Te escrevo de muito longe, mas apesar da distância sei muita coisa a seu respeito. Lembrei de ti está noite, pois está semana eu estava mexendo numas gavetas aqui de casa e esbarrei com uma foto tua. – Sim! Eu já tenho fotos suas, alias, muitas! (Coisas do nosso tempo). Na foto, você está na calçada junto com sua babá e o seu irmão, numa das principais avenidas de Maceió. É uma foto muito bonita, apesar do péssimo enquadramento e da falta de foco. A avenida com seis tímidos carrinhos, iluminada pelo sol de fim de tarde é tão inocente quanto vocês.

Ela hoje está muito diferente, estive lá mais cedo, creio que na mesma hora que a tua foto foi tirada. Os seis carros viraram milhares, a calçada hoje é um estacionamento de uma loja de parafusos e ver crianças por ali apenas nos outdoors – Ou pedindo nos semáforos. Outras coisas mudaram daí pra cá e se fossemos ficar apenas na geografia da cidade seria bom... As fotos e histórias que me chegam daí sempre me parecem muito mais vivas e interessantes.

Assim como as lembranças que tenho. 

Desculpe o saudosismo da última linha, não consigo evitar às vezes. – Dizem que você também é. Procure averiguar.
Você vai ouvir muita balela: Que o mundo irá acabar a cada mudança de década ou de século, por exemplo. É mentira, ele não vai acabar – Só ficara mais chato. Os filmes que mostrarão carros voadores, seres imortais e robôs convivendo com humanos serão mais mentirosos que o Lucas – Um menino que você conhecerá na quarta série. Os carros estarão bem presos ao chão; a imortalidade será um bem apenas de nossos políticos e os robôs... Eles não se parecerão com robôs, eles terão coração, olhos, sangue, cabelo... (Não acredite nos Jetsons e muito menos no Lucas!).

Quero te dizer também umas coisas que eu sei de você:

Aos nove anos, você descobrirá umas fitas VHS numa tarde sozinho em casa. As filmagens serão de seu primeiro aniversário, de um passeio na praia com a família e de um domingo cheio de gente pela casa. E você irá lembrar muito da tarde em que achou essas fitas.

E dezesseis anos depois, enquanto estiver escrevendo uma carta você saberá do pecado que foi perder estas fitas.

De onde te escrevo não existem mais fitas ou videocassetes. Os vídeos, fotos e músicas serão arquivos invisíveis na maior parte do tempo, a vantagem é que você poderá vê-las de onde quiser, e para o bem ou para o mal não poderá apaga-las. Ou perde-las... - É difícil entender não é? Eu daqui também não entendo muito bem.

Alguns conselhos:
Não coma tanta besteira, nem tome muito refrigerante... (eu sei que será inútil dizer isso).

Você terá outro irmão, e dizem que sentira ciúmes dele no começo. Depois verá que foi a melhor coisa que aconteceu pra você e para todo mundo aí na tua casa.

Evite tratar mal uma moça que conhecerá com nome de flor.

E quando tiver dúvidas sobre qualquer coisa não faça!

Você vai viver coisas bonitas. Conhecerá gente incrível e lugares idem, mais até do que eu agora. Vá se preparando da melhor maneira possível. Como? Pergunte para sua mãe. 
Ah! Peça para ela de presente o quanto antes: Um livro chamado ‘Encontro Marcado’ de um moço por nome de Fernando Sabino. E Leia! Leia muito, leia de tudo.
Mas sempre que alguém te convidar para jogar bola ou brincar aceite.

É isso boy. Se disser mais estraga.

Dê um abraço bem forte aí na sua mãe, e um mais forte ainda no seu pai e outro no Diogo (mesmo que ele não queira) – E diga que sinto falta dele.

Aproveite o caminho.
Felicidades!
Com Amor:

Cid

Ps:. Ah! Para cada ano que ler está carta: Um feliz aniversário!

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