(Ian Francis) |
O som do copo que se derrama
em cacos por uma parede: São os famigerados ‘Ele’ & ‘Ela’ que recomeçam sua
novela radiofônica:
ELE: Por que você não se cala?
ELA: Por que você não me ama?
ELE: Por que você não se ama!
ELA: Por que você não nos ama.
ELE: Por que você não se cala e vai pra cama.
ELA: Adoraria ir, se você me procurasse de vez em quando.
ELE: O que? De novo isso!
ELA: Há tempos não temos nada de novo aqui, meu querido.
ELE: Desculpe. Esqueci, esse papel é seu. E essa semana qual a
novidADE? CURSO DE FOTOGRAFIA OU OFICINA LITERÁRIA?
ELA: Psiu! Fale baixo! Não quero que aquele vizinho bisbilhoteiro
nos ouça.
ELE: E daí? Aposto que depois você vai publicar esse diálogo
inteiro no seu blog de brinquedo, com nossos nomes e diálogos trocados. Só que
não estarei lá para comentar...
ELA: Por que você sempre desvia o assunto?
ELE: Você que é que vive se desviando de tudo.
ELA: Sim, incluindo de você, do copo, de sua falta de iniciativa,
de sexo e nexo!
ELE: Eu vou embora dessa casa. Da SUA casa! Antes que você me
corrija.
ELA: Quer que eu me retire para você se vestir?
ELE: Por que você não se cala?
ELA: Você não merece tanto!
ELE: Nos não merecíamos tanto.
(Um minuto de silêncio e
sombras dentro do risco luz na soleira).
ELA: Por que você não vai logo embora?
ELE: Não consigo.
ELA: Por quê?
ELE: Por que eu te amo.
ELA: Por que você não se ama de vez em quando?
ELE: Por que você não me ama?
ELA: Por que você não se cala?
ELE: Por que você não me cala?
ELA: Só conheço um jeito de te calar.
...
E vejo o risco de luz sumir
do décimo andar de uma porta na madrugada.
Cid Brasil
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