terça-feira, 21 de maio de 2013

AMOR COM VOZ DE GATO FANHO




Oi? 

Por que você não foi me ver ontem no trabalho? Eu tava cansado, não te falei? Não lembro; você mente muito. O meu problema é que fraquejo ao contar a verdade... Maluquinho! E hoje vai me ver no trabalho? Eu vou viajar esta noite, esqueceu? É? Te falei ontem isso. Titubeante, mas falei. Aí (com voz de gato fanho) amoooor, foi mesmo, lembrei agora, oía! Que bom. E por que você não me ligou ontem?  Mas não nos vimos ontem? Sim, mas é que como você não foi me ver ontem no trabalho podia ter ligado, coisa alias que o senhor não faz nunca. Menina! Calma aí; nos conhecemos faz três dias e você já me fez mais cobranças que a minha mãe no ano passado. A proposito, ela é muito dominadora, isso é péssimo pra você amor. Você nem a conhece. Não, mas conheço bem as escorpianas. COMO VOCÊ SABE DISSO? Vi no perfil dela. E você já ME achou por lá? Claro.  

Nossa...

(...)

Ficou com raiva, foi? Não... Escuta, você não tá telefonando do restaurante da esquina, está? Como você sabe? Ouvi a voz do garçom. Do Bernardo? Isso! Já o conhece também? Aí (com voz de gato fanho) amoooor, foi uma coincidência. Ele já disse qual o prédio que moro, não é? Tô olhando para ele. Filhadaputa!!! Que foi amor? Bati o pé na quina do sofá (mentira).

(...)

Você tá estranho hoje. Sempre estou estranho, você é que tá percebendo melhor as coisas.  Amor, não coma tanta fritura, nem essa salada daqui e não beba tanto vinho, viu?

(Minha vida é um Bernardo aberto...). 

Olha, já estou ficando com medo. De que amoooor? Dos invasores de corpos... O que? Nada. Sozinho amor? Não a casa tá cheia, está todo mundo aqui. Mas tô vendo que as cortinas estão fechadas. É que o pessoal está rezando (morava sozinho). Vem pra cá. Tá, vou descer. Não desliga, vem falando comigo no caminho.  Não dá, vai cair a ligação quando eu entrar no elevador... (Desligo)

***
 
(Vibram três mensagens no celular do amor entre o amarrar dos cadarços, quatro xingamentos em Bernardo e a leitura do caderno de desculpas).

O amor sentia um arrependimento colossal pela conversa iniciada sexta naquele restaurante.


Cid Brasil

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