(House at Dusk - E.Hopper) |
O elevador não havia chegado. Mais Cansado
que eu de toda a mudança; de tudo haviam restado apenas três cabides em minhas
mãos, estava realmente cansado, tanto que me repetia. Ouvi os roncos desse que
descia, era um apito fino esse barulho, era o prenuncio de que algo aconteceria
nesse elevador. Que não caia, pensei.
Ao abrir, uma voz reclamou que havia
esquecido algo, teria de subir novamente, podia? Claro! Era uma moça alta, de
cabelos negros e sorriso de criança; a esquecida dona da voz.
Iria até o fim, e o fim era bem longe
daqui, o fim era no décimo andar, bem longe do terceiro andar que escrevo. Ao
entrar, recebo uma pergunta, um elogio e um olhar: Você é novo aqui, não é?
Bonito seus sapatos – Subindo o olhar desses que já conhecia bem, flagrei os
seus que nunca tinha visto mais negros em mim. Descobri aí seu sorriso de
criança. Devolvi na mesma moeda: Uma pergunta, um elogio e um olhar: Qual seu
nome? Que bonito... E diferente! Seus olhos... São verdes! Eram verdes, os
olhos de Alexia, que só agora eu percebia. Todo mundo confundia o olhar de Alexia, será que eu fazia o mesmo nesse elevador? Confundindo os pensamentos
por trás desse olhar, pedi através dele que o elevador parasse.
Só não caísse, já era quase o
terceiro, mas por deus que não caísse, não queria fazer feio no primeiro dia
perante Alexia.
Não, vamos subir, podia? Desço na
volta! Foi o meu disfarce, fingindo charme perante o vacilo de esquecer qual
andar que alugara, ou seria esperteza? Não, vamos! Só assim conheço melhor o
prédio. Sorriu. Sorrimos do nome do sindico: Fausto – Demonstrou inteligência,
sorriu de outra piada que fiz: Um ponto pra Goethe, zero para o apresentador de
televisão. Fiz um pacto com
mefistófeles, ‘pare esse elevador agora e
na volta, leio de enfiada sua vitória, no original, em alemão’. Como sabia
ser mentira, o tinhoso me travou a língua no quarto andar. – Pelo menos que não
caia. No quinto, minha companheira de
viagem indagou: Ainda nem perguntei teu nome, não foi? Faustosamente me
apresentei. Tão bobo que me surpreendi não ter pontuado ao final: Um criado, ao
seu dispor! – Pareceu adivinhar, e gargalhou.
E esses cabides menino? Disse ser o
troco do pagamento da mudança, gargalhou novamente. Você é engraçado; é
temporário? Por mim seria para sempre! (Ainda bem que não falei isso), não, não...
É para sempre! (escapou!). Você vai gostar daqui, os vizinhos são tranquilo,
silenciosos. Defeito aqui, Só esse elevador que é lento. Completei dizendo que até isso tinha
suas vantagens. Quis saber quais. Ora, ter mais tempo para pensar antes de
esculhambar o esposo. Casada? – Não, não. Eu também não. De repente... Parou!
Mefistófeles me atendeu? Sim, mas para o próprio entrar no sétimo andar, em
forma de velhinha simpática.
Ainda perguntei no oitavo o que fazia: Era dentista.
O nono andar, foi dedicado a olhares
através do espelho de fundo.
Desceram juntas no décimo, Alexia
ainda olhou para trás, dividimos um boa noite, boa noite, baixinho. No quase
fechar da porta reapareceu com os olhos verdes novamente: E seja bem vindo! –
Parecia triste nesse último olhar. Só não disse agente se fala ou se vê. Desci
os andares até o terceiro que me cabia.
Não havia ascensorista para dividir meu encanto ou investigações. Uma
semana depois perguntei ao porteiro, sobre a Alexia daquele dia. Mudara-se no
dia anterior.
Nunca contei isso para ninguém. Conto
hoje, que voltei a andar de elevador.
Cid
Brasil
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