(R.Angelo) |
Ó Avenida Fernandes Lima! – Terei de
gritar mais uma vez, para que ouça em tua tumba?
És cartão postal? Ou será que em tudo
és quase? Pseudo avenida também? Quantos
casais deixarão de se conhecer no seu passeio público desnivelado? Quantas
fotos deixaram de ser tirada em tua passarela a mão armada?
Cartão postal... Não és, pois nem para
isso tens vocação na tua apática retidão.
Não podes Avenida Fernandes Lima reclamar
que somos alheios a ti, ser empedernido que insiste em travar nossas vidas. Saibas
que és sem graça, mas seria por opção? Não, não fiques brava exalando calor de
tuas faces e terror de teus galhos secos. Calor. Tu tens isso e uma vocação
desperdiçada, mesmo os que em ti fincam morada são amaldiçoados com sua inhaca
de cadáver. És um natimorto Avenida Fernandes Lima. Batizaram-te pelas costas com
esse nome de coronel. Como redenção, no dia de teu batismo, merecias um gaiato
típico dos nossos, gritar no meio da multidão: “Coloca Avenida carniça!”.
Calma, calma, você não fede Fernandes Lima, nem isso o teu homônimo cadáver faz
mais, e tu hoje nem esse ‘chalme’ possui, como teu primo salgadinho, nele não
há passantes alheios ou silenciosos, lá o mesmo gaiato solta um grito fanho que
não te pertences.
És um fantasma que nas suas trevas,
clama silencioso por um passante em tuas calçadas. Nas sombras das portas
cerradas só refletes tu, horrenda, com tua luz amarelada. Sorrisos apenas
nos outdoors queimados que tu carregas. Ó profundeza de teus bueiros entupidos,
como pedir que lance teus anúncios, santinhos e panfletos entalados, para quem
sabe assim poder expressar algo. - Nem fossem saudades. Se já nem vives mais
Avenida Fernandes Lima, como te pedir para regurgitar?
Te evitam sempre que podem: Seja pelo
Bebedouro dono de ladeiras ébrias ou pelo lado daquela que foi jocosamente
apelidada de Via expressa. Evitamos-te sempre que podemos, velha carola que se
recolhe ao anoitecer. Quando muitas vezes necessária, evitamos mirar suas
órbitas vazias e seu sorriso banguela. Pois é um fantasma, arremedo que insiste
se chamar avenida. Tu que morreste de diabetes em teu hospital de açúcar.
Participamos alheios de teu cortejo diário.
Ser cadavérico abdique da mesquinhez
do teu imenso tumulo, onde jaz o tal quartel, tão grande e tão igualmente
inútil. Suspire um último alento que seja para o verde de teu Ibama e escancare
seus portões lacrados, para que crianças subam em suas árvores ou te roubem
pitangas; não vista esse manto falso de bom vizinho, permitindo que caminhemos
em teus meios fios por nome de calçadas. E se não, que toupeiras gigantes,
façam jus a suas carteiras de corretores, te fazendo buracos e erguendo novos
velhos hipermercados. – Como os que estas acostumadas.
Como te chamas hoje?
Lembra-te que hás de morrer também
esse teu nome, e serás rebatizada com outro pomposo, que bem representa tua atual
desgraça, por hora livrastes de se chamar: Avenida Fernando Collor. Seria pior
assim tua ruina, não seria? E infelizmente, essa é tua cruz nesse lugar onde tu
estas enterrada, chamar-se assim ou: Avenida Renan Calheiros. Não duvide da
capacidade desses que vôs habitam e que vôs desgovernam. Disso não escaparas,
nem tu e muito menos nós, que teríamos assim de repetir esses nomes vis, até
cairmos numa letargia perante os feitos desses cães.
Livrai-nos (por hora) desse mal,
Amém.
Cid Brasil
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