Todo ele acontece dentro de um
parêntese (de sonho) de realidade. E nos meus: Sonho com o que nunca vi, tive
ou conheci. Mas (sonho) que se não fossem assim ele não receberiam esse apelido
(de sonho). São grandes e pequenos os meus (sonhos) que não existem. Confesso
que gosto dos mais mesquinhos. Aquele com o apartamento em Paris mobiliado
apenas com um colchão de casal e rodeado de livros; com o café em Buenos Aires
que não sei se existe, mas existe sim, por que sonho. (Sonho) com o livro que
escreverei; com o dia que a moça cinéfila aceitara minhas desculpas. Sonho com (o
sonho) que quero ter essa noite, que ainda não sei, mas que seja um contendo
esses todos.
Sonho agora, acordado, fora dos
parênteses, nestas letras:
Que não falte energia ou não me falte
luz, que essa cidade construa saudades, ainda que para isso todos tivessem de
se evadir daqui – incluindo você e eu. Sonho eternas noites de chuva nesse
lugar quente, mesmo sabendo que sonhadas ou vividas elas são igualmente
tristes. Vejo uma casa por nome de sitio (num sonho?) e com a criança que a
habitou.
Sonho que alguém lê esse texto, com o outro que irá só até aqui e com os
vários que o esnobam.
Os que ainda sonharei, sonho também,
como com as mulheres e os amigos que ainda terei de sonha-los. Sonho que pelo
menos dez universitários saibam o que estão estudando, que vinte adolescentes
saibam o que querem e que quarenta crianças da escola onde estudei sonhem com
castelos, pirâmides, planetas e constelações; e (sonho) que um adulto está
noite se permita todos os clichês em função de outro (ou de um sonho). Que as
folhas desse caderninho vermelho não acabem jamais e que o café que agora borbulha
por mim esteja bom. Finalmente bom – Vê, sonho pequenininho. E depois de
acordar desses, que o dia me traga outros. E durante o dia (sonho) que nunca
passe essa doença/obsessão que batizaram: escrever.
(Sonho) com as reprises que já sonhei:
Gargalhadas colegiais que fazem quatro meninos lacrimejarem de tanto rir e que
me fazem despertar apenas com o choro daquilo que vivi – ou vivemos (ou
sonhamos!). Estes por sinal são os únicos que consigo rouba-los para o lado de
cá, trazendo sempre no acordar o sorriso – Embora nunca lembre os motivos. (Sonho)
um dia ou tarde da infância, onde driblei a melancolia das arvores derrubadas,
trafegando entre suas copas caídas. Todas as noites tenho a impressão que
sonho ser abraçado por alguém que se foi. Confundo livros, os filmes e as
mentiras que ouvi – Sonhando-me dentro deles.
Assim como sonho em ser mais lírico,
mais poeta, mais romântico e menos egoísta. Sonho que o dia passe a ter trinta
e seis horas mais, mas que o trabalho continue durando estas mesmas oito horas;
(sonho) que a bela mulher que vejo retornar todas as noites sozinha, chegue um
dia acompanhada; que a família em frente a esse prédio, tenha um natal mais
harmônico que o último que vi – ou que o meu; que aquele casal de vendedores de
água de coco na Fernandes Lima se reconcilie; (sonho!) em deixar meu irmão e
minha mãe felizes, ainda que só acredite na palavra felicidade para esses dois.
E (sonho) que alguém me sonha está
noite e amanhã me ligara dizendo “sonhei com você e lá você me fazia sorrir”.
Cid Brasil
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