(Abre parêntese)...Após o carnaval, Léo e eu nos gritamos a um metro de distância: ‘Ás duas? Ás duas! ’ – Na alcoólica
certeza que não cumpriremos o acordo. Depois, já estou dentro de outra noite,
subindo uma ladeira desconhecida, assim como o meu destino. Paro em frente a
uma porta, não sei quem irá abri-la, mas sei que estou na porta da casa dela, a
apreensão dos meus dedos refletem isso na campainha...
Agora estou te ouvindo dizer
da minha total falta de orgulho, ou ‘orgulho zero’ como você disse lá, respondo
que isto (orgulho) nunca me deu nada. – Com esse diálogo tenho consciência que
ela aceitou o meu pedido finalmente. E uma sensação me invade lá dentro, dou um
grito surdo: ‘Consegui! Eu consegui! ’. Alegria essa que me faz conversar sobre
séries televisivas (que ela tanto gosta e eu detesto). – The Wire! Que nós nunca
vimos, e eu só falo nessa por que vi o Mário Vargas Llosa elogiando-a, e me
parabenizo silenciosamente por ter ido pesquisar sobre essa série aqui fora,
pois agora poso discorrer diletantemente sobre ela para ela. Parece
interessada, me mostra depois uns pequenos livros em sua prateleira que não me
recordo quais.
Muita parafernália. Coisas,
muita coisa naquela casa.
Era um domingo. Não um
domingo qualquer. Um domingo visitando-a. Aquele jardim era o meu lugar na
terra.
De repente, no meio da
conversa e de nos, o namorado dela chegou. Apareceu de chuteiras e sem camisa,
me tratou com aspereza igual às travas da chuteira que calçava, me ironizou.
Ela percebeu, os amigos dele chegaram e lotaram aquele jardim, haviam marcado
um jogo naquele lugar. De repente ali não era mais o meu lugar. Bati em
retirada – E lá ficou a moça com a mão no queixo segurando os pensamentos...
No caminho da volta da casa
dela, pela madrugada não havia caminho, mas sim uma escadaria que parecia não
ter fim. O caminho de volta daquele jardim era uma estreita e sinuosa escadaria
de madeira. Não lembrava de escadas ou do edifício, lembrei que a chegada foi
uma subida, apenas isso. Ao entrar numa das salas daquele lugar já estou em
outro sonho... (Fecha parêntese)
***
Não fiquei com o gosto de
frustração no despertar que todos os bons sonhos deixam. Naquele sonho não
havia mocinhos ou vilões, lá eu não queria rapta-la ou beija-la. Eu queria
aquilo mesmo, um parêntese dentro da realidade. Hoje não tem crônica ou ficção
por aqui. Achem pouco ou não, mas hoje é só isso. É que hoje eu fui esse sonho
o dia todinho.
Nesta quinta feira de
feriado morto, ganhei o dia no despertar: Talvez por que antes de dormir, eu
tenha pensado que nunca mais sonhei com ela...
Boa noite.
Cid Brasil