(Robert Frank Hunter) |
Caro leitor; não sei como foi a sua semana, mas admito que gostaria
muito de saber. E quando escrevo isso falo sério; queria te ouvir e esperar que
no fim você me perguntasse a mesma coisa.
Essa semana, na segunda-feira, vinha eu de carro pensando em nada e
dando a isso um peso de tudo, distraído, alheio, vazio... Atravessando o bairro
do bebedouro, quando o sinal fechou. A minha frente não tinha nada, quer dizer,
é muita ousadia chamar um caminhão cheio de madeira de nada, mas não sou tão
bom cronista para extrair poesia, belas imagens ou uma misera reflexão de um
caminhão cheio de finadas arvores, pensando inclusive isso, justo no momento em
que tentava combinar as letras das placas do referido para quem sabe me
surpreender com alguma palavra mágica que alguém gritou ao meu lado. Foi quando
percebi que estava em frente a uma casa de repouso, eram cinco horas da tarde e
todos no seu banho de sol, alguns olhando para longe dentro de si, outros montando
quebra-cabeças invisíveis, um fazendo careta para todo mundo que passava e dois
que fumavam tão demoradamente que a impressão é que o cigarro durava já dias. E
bem ao fundo, já perto do exagerado portão vi uma mulher segurando um
refrigerante de um litro e três copos descartáveis.
Aquela mulher usando uma saia lilás bem surradinha e uma camisa
laranja uns três números maior que o seu com o nome de um politico estampando,
junto de seus gritos em ir beber algo diferente; algo que não é comum naquela
casa de repouso e que possivelmente dividiria com outros felizardos dava
sentido em chamar aquele entardecer de bonito, embora assustadoramente quente
naquele momento aquela senhora de cabelos revoltos, num bairro longe dos
cartões postais era a própria representação da felicidade. E naquele momento senti
que ela justificava um monte de coisas, a mais tangível delas era a existência
dessas bebidas estéreis e gasosas chamadas refrigerantes, o próprio nome
estampando na sua blusa prometendo mudanças, o sol que alaranjava tudo e até as
buzinas que eu ouvia.
Ela era a própria propaganda que nunca veremos meu caro leitor. –
Nem do refri ou dessa cidade. Mesmo assim, não posso dizer que não importa,
pois importa sim, já que gostaria de saber o nome. – Dela, não da bebida -.
Essa imagem deve ter durado uns três segundos, o tempo dela estender os braços
em direção a alguém por trás do portão e fazer uma espécie de dança, balançando
a garrafa aberta e os três copos um dentro do outro. Depois, ou antes, disso o
sinal abriu, o caminhão seguiu, eu também e ela deve ter consumado aquilo que
para mim merecia não só uma crônica, uma foto ou uma lembrança.
Não sei o que você me contaria leitor, mas nessa tarde de domingo,
ainda sentindo um imenso vazio que esses dias trazem, já tendo passado quase
uma semana eu só contaria isso, e finalizaria dizendo que mais do que a coleção
de dias, essa imagem foi uma das que mais me comoveram nesse ano inteiro.
Cid Brasil
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