Tenho uma tia, metida a frasista, que dizia que tudo tem seu
tempo... – Pensando bem, todo mundo deve ter uma tia que fala assim, portanto
se você ainda não tem, tenha calma: Até para isso tem tempo -. Mas o fato é que
tem coisas que mesmo no tempo acontecem meio tarde, uma delas é conhecer o som
do Lou Reed.
Fui apresentado da seguinte forma: Li num blog que um professor no dia
da morte do mister Reed, pôs para seus alunos de onze anos para ouvirem a
música “Perfect Day” e disse apenas que era daquele cara a quem os jornais
falavam que tinha morrido. As crianças ouviram a música num silêncio que fez a
garganta do professor dar um laço. Quando ouvi a tal música, entendi as
crianças e o silêncio delas, a música dessas que pedem para ser ouvidas assim.
É uma canção simples, que fala sobre um dia simples onde beber no parque e
ficar ao lado de quem se gosta é uma dessas coisas que seguram nossa barra.
O meu amigo Lou canta isso de uma forma tão bonita que se eu colocasse
aqui qualquer outra palavra estragaria. É assim: Bonito. Como o tal dia em que
ele fala na música; desses momentos em que nos deixam respirando se não por
mais um dia, às vezes até por uma vida inteira. Quando ele morreu no dia 27 de
outubro, confesso que não dei muita bola para aquele senhor de 71 anos que
morreu de forma tranquila ao lado da família. Só três semanas depois do
ocorrido, já ouvindo no repeat desde ontem não só o disco “Transformer” como a
música do dia perfeito, fiquei enumerando os dias assim que tive e todos eles
foram iguais a forma como o meu amigo Lou Reed canta o refrão da música: Sem
gritar, sem euforia, iguais aos momentos que nunca esqueceremos, que são
aqueles num quarto escuro, num dia meio cinza, numa xicara de café ou num filme
do Woody Allen. Enfim... Outra coisa que pensava enquanto ouvia era: “Preciso
escrever uma crônica, preciso escrever uma crônica...”. Só para não deixar
batido a minha ignorância em só conhecer o som desse cara aos vinte e cinco
anos de idade e também porque crônicas se prestam a ser assim, iguais à música.
É por isso que vou parar de reclamar comigo mesmo de que sou um
cara apressado, que muitas vezes nem percebe que o dia perfeito de ontem
aconteceu numa madrugada ouvindo um senhor do Brooklyn cantar um clichê de uma
forma mais clichê ainda dizendo que nos só iremos colher o que plantamos. – E
mesmo assim me emocionar.
Eu nem queria acabar esse texto aqui, mas a minha tia lá tem razão
naquelas frases feitas das tias, tudo acaba, tudo tem um fim. Até as crônicas,
até os grandes artistas, até os dias, até a agente e até o CD do Lou Reed.
Cid Brasil
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