(Henri de Toulouse-Lautrec) |
Ao levantar a cabeça vejo um homem por
de trás de um balcão. Percebo isso através do vidro que me cerca. Ele está
escrevendo dentro daquele caixa. Esse homem que vejo não me engana: Estou
cansado.
Ao meio dia todos são clientes cheios
de razões, idiossincrasias e pedidos de descontos.
Ás sete da noite creio que já posso
chama-los de personagens.
A menina com ares de Lolita, o sósia
do Antônio Fagundes, um gordo que se esvai em suor e aquela a quem Nelson
Rodrigues batizou de a ‘grã-fina com
narinas de cadáver... ’. Prometiam muito com as imagens que refletiam, mas
com esses não fui além de um: ‘Obrigado e até a próxima!’. Nada me levaram.
Nada me pediram. Nada me tomaram.
O reflexo que vejo no espelho defronte
continua estático.
Há ainda os que eternamente vejo
desfilar trazendo suas fomes e angústias. Algumas putas cansadas comprando
cigarros, um casal arrependido de sua condição de casal, um homem que está
bebendo sozinho e um senhor encurvado pelo tempo. Tenho por estes também um
tímido sentimento de irmandade (Que só percebo agora nestas linhas). Simpatizo
eles e com suas estórias que ouço – Ou invento. Vou aliviando assim a rotina de
minhas retinas. Todos estes são irmãos do homem de trás do balcão.
São todos reflexos de um espelho
manchado.
Talvez sentindo essa cumplicidade, um
homem que bebe se levanta da mesa 39 e vem na minha direção falando ao celular,
me pede uma caneta e uma folha: ‘Emprestadas’.
Levando assim o rumo destas linhas e o berço da crônica de amanhã. Creio ainda
ser cedo para dizer também que ele levou algo meu.
No retorno da caneta, percebo na
antiga folha de minhas angústias um feixe de linhas azuis paralelas cortadas
por uma transversal: Formam um caminho. Ele percebe que eu percebo e me conta
aonde aquele mapa o levará: ‘Para um
lugar lá no centro... ’. E me diz que um amigo acabou de ver sua ex-mulher
em um bar abraçada a outro homem. O telefonema entregou o mapa da mina – Ou de
sua ruína.
O homem do mapa não é de Maceió, me
conta ainda que isso não importa: ‘A pé,
de ônibus ou taxi’ ele chegará lá está noite. Meu pedido para que abandone
seu plano é tão esmaecido quanto o meu reflexo de agora. Um apagado ‘telefone amanhã rapaz!’ nem é escutado
pelo dono do mapa. Antes dele se virar, tento um último recurso. Um último
aviso para que tenha cuidado com o que o espera. Que evite alguma bobagem.
Ele pergunta meu nome e diz que tem de
ir, pois o homem que está abraçando sua ex-mulher é o seu irmão. Paga a conta e
finalmente se vai.
Acompanho sua saída através do
espelho, nisso passo os olhos por um calendário e vejo que hoje é dia dos
namorados.
Cid Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário