(René Magritte) |
Caro,
Espero que está carta te
encontre bem... – Olha, é um pouco estranho começar está carta assim, pois você
ainda nem nasceu e daqui a algumas horas quando isso ocorrer você provavelmente
vai rasga-la ou querer colocar ela na boca. Por isso, gostaria que alguém a
lesse para ti e a guardasse. Peço isso, pois desejo que ela toque e comunique
pelo menos este leitor.
Te escrevo de muito longe,
mas apesar da distância sei muita coisa a seu respeito. Lembrei de ti está
noite, pois está semana eu estava mexendo numas gavetas aqui de casa e esbarrei
com uma foto tua. – Sim! Eu já tenho fotos suas, alias, muitas! (Coisas do
nosso tempo). Na foto, você está na calçada junto com sua babá e o seu irmão, numa
das principais avenidas de Maceió. É uma foto muito bonita, apesar do péssimo
enquadramento e da falta de foco. A avenida com seis tímidos carrinhos,
iluminada pelo sol de fim de tarde é tão inocente quanto vocês.
Ela hoje está muito diferente,
estive lá mais cedo, creio que na mesma hora que a tua foto foi tirada. Os seis
carros viraram milhares, a calçada hoje é um estacionamento de uma loja de
parafusos e ver crianças por ali apenas nos outdoors – Ou pedindo nos semáforos.
Outras coisas mudaram daí pra cá e se fossemos ficar apenas na geografia da
cidade seria bom... As fotos e histórias que me chegam daí sempre me parecem muito
mais vivas e interessantes.
Assim como as lembranças
que tenho.
Desculpe o saudosismo da última
linha, não consigo evitar às vezes. – Dizem que você também é. Procure averiguar.
Você vai ouvir muita
balela: Que o mundo irá acabar a cada mudança de década ou de século, por
exemplo. É mentira, ele não vai acabar – Só ficara mais chato. Os filmes que
mostrarão carros voadores, seres imortais e robôs convivendo com humanos serão
mais mentirosos que o Lucas – Um menino que você conhecerá na quarta série. Os
carros estarão bem presos ao chão; a imortalidade será um bem apenas de nossos
políticos e os robôs... Eles não se parecerão com robôs, eles terão coração,
olhos, sangue, cabelo... (Não acredite nos Jetsons e muito menos no Lucas!).
Quero te dizer também umas
coisas que eu sei de você:
Aos nove anos, você
descobrirá umas fitas VHS numa tarde sozinho em casa. As filmagens serão de seu
primeiro aniversário, de um passeio na praia com a família e de um domingo
cheio de gente pela casa. E você irá lembrar muito da tarde em que achou essas
fitas.
E dezesseis anos depois,
enquanto estiver escrevendo uma carta você saberá do pecado que foi perder
estas fitas.
De onde te escrevo não
existem mais fitas ou videocassetes. Os vídeos, fotos e músicas serão arquivos invisíveis
na maior parte do tempo, a vantagem é que você poderá vê-las de onde quiser, e
para o bem ou para o mal não poderá apaga-las. Ou perde-las... - É difícil entender
não é? Eu daqui também não entendo muito bem.
Alguns conselhos:
Não coma tanta besteira,
nem tome muito refrigerante... (eu sei que será inútil dizer isso).
Você terá outro irmão, e dizem
que sentira ciúmes dele no começo. Depois verá que foi a melhor coisa que
aconteceu pra você e para todo mundo aí na tua casa.
Evite tratar mal uma moça
que conhecerá com nome de flor.
E quando tiver dúvidas
sobre qualquer coisa não faça!
Você vai viver coisas
bonitas. Conhecerá gente incrível e lugares idem, mais até do que eu agora. Vá
se preparando da melhor maneira possível. Como? Pergunte para sua mãe.
Ah! Peça
para ela de presente o quanto antes: Um livro chamado ‘Encontro Marcado’ de um
moço por nome de Fernando Sabino. E Leia! Leia muito, leia de tudo.
Mas sempre que alguém te
convidar para jogar bola ou brincar aceite.
É isso boy. Se disser mais estraga.
Dê um abraço bem forte aí
na sua mãe, e um mais forte ainda no seu pai e outro no Diogo (mesmo que ele
não queira) – E diga que sinto falta dele.
Aproveite o caminho.
Felicidades!
Com Amor:
Cid
Ps:. Ah! Para cada ano que
ler está carta: Um feliz aniversário!
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