quinta-feira, 27 de junho de 2013

A CONFRARIA DOS PASSARINHOS




 
(Richard Diebenkorn)

O que tanto conversam os passarinhos as cinco e vinte e três da manhã?

Talvez assobiem/conversem assim o dia inteiro, mas com o silêncio do alvorecer, julgo que sou capaz de escutar uma prosa entre duas graúnas na árvore da esquina. Imagino que falem sobre os sonhos que tiveram esta noite.

De minha esquina escuto um piar solitário que possivelmente é de uma sábia enamorada. Ou de alguma ave mãe que está indo buscar o desjejum de seus filhotes. - Não sei, só posso adivinhar. Não sei o que tanto conversam os pássaros ás cinto e vinte e nove da manhã. Será que reclamam da chuva desta madrugada que atrapalhou o descanso de alguns deles? – Pela força de seus assobios julgo que o único que dormiu mal está noite fui eu.

Enquanto isso: Outros de minha espécie permanecem inertes; sonhando encontros impossíveis, situações absurdas e outras vidas, e essas imagens no final das contas se resumem a voos, loops e rasantes em busca de um vislumbre de uma coisa apelidada de liberdade.

Ás cinco e trinta e cinco é uma confraria de passarinhos o que ouço, pelo rumo da prosa algum deles contou uma piada. Ou não? – Na verdade o que consigo decifrar é que estão zombando de nós. – Sim! Estão rindo na verdade. A piada somos nós. Mesmo os engaiolados da casa de fronte riem a pio alto de seus próprios carcereiros: presos em gaiolas de tijolos, horários e compromissos. Os pardais que se bronzeiam no poste, parecem dizer que os pequenos desse lugar somos nós. – Eles riem dos que não sabem viver. Um pardal gargalha mais forte agora que coloquei a minha cara amassada na janela, tentando vê-lo. Tentando adivinhar o que seus pares tanto conversam ás cinco e quarenta da manhã.

Estão rindo: de mim, rindo de você e rindo de outro que da janela de baixo aparece e me faz companhia. No momento nem um ‘bom dia’ pra puxar assunto conseguimos emitir. Ás cinco e quarenta e dois não é de palavras que o mundo precisa.

Evito até olhar o relógio novamente (com medo de constatar que ainda ás cinco e quarenta e três eu ainda não sei do que tanto falam). Uma sinfonia de gargantas aquece lá longe, imitando gritos, gemidos e roncos tipicamente humanos. Infelizmente permitimos a eles poucas horas das vinte e quatro que imaginamos sermos os donos – Por isso, começo a suspeitar que eles tenham coisa melhor do que falar.

O homem da janela continua lá. Apenas ouvindo. Igual a mim.

Silenciamos dentro da nossa rouca inveja.

Ás sete da manhã os pássaros já disseram tudo.

Cid Brasil

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