(Pablo Picasso) |
Esbarro com uma foto de uma
faixa iluminando uma rua e seus transeuntes: “Um dia escreverei um poema”, o
autor da faixa e da foto é desconhecido, infelizmente, mas com certeza é poeta.
Fico encantado, pois sou daqueles que acredita que todo mundo já escreveu um
poema alguma vez na vida ou no bar, e que me atire o primeiro verso quem nunca
teve seu momento de riscar rimas melosas em guardanapos úmidos e últimas
páginas de um Tilibra.
É nessa questão que me
indago: Como?
No geral, a pena do poeta-donzelo
é sempre inaugurada pelo mesmo motivo: O
amour! Seja ele o desesperado que platoniza em sala de aula ou o angustiado
do primeiro encontro que chegou cedo demais; nesses casos, o terreno é
fertilíssimo para que geralmente surja mais um Pablo Neruda pós-gripe.
Outra questão curiosa é: Como
é possível que o mais alienado dos universitários ou a fã número um do Belo já
tenha escrito os seus? Alguma cigana disse a eles que palavras rimadas
apresentadas em versos e estrofes trarão a pessoa amada em três dias? - Não.
Claro que não. É que nessa seara, se dá outro mistério da poesia, todo mundo
além de escrever, já leu um poema na vida, nem que fosse aquele no mural da
secretária da escola. E nem vou falar que a internet serve hoje com um trovador
vanguardista, dizer isso seria como citar Clarice Lispector na rede.
E se você ainda não escreveu os seus, lhe peço apenas calma. E que
olhe não só para fora, mas para dentro: Para aquele poeta que há em nós, aquele
com uma pena já fininha, tentando colorir a rotina, a pos-graduação, o transito
e o patrão nosso de cada dia. - Just calm, que sua hora chegará.
Mesmo aquele que nunca
passou sequer por uma rua de nome Castro Alves, é capaz de ver florescer
versinhos bobos e apaixonados ao final de suas cartas românticas. Assim como a
infeliz donzela que rabisca um ‘amor com dor’ na agenda recheada de fotos e
embrulhos de bombons. Disso ninguém escapou e nem quis escapar. Pode ter
certeza, mesmo o bigodudo da mercearia ou seu sogro cafuçu, já largaram seus
tacapes e fizeram a caveira de Shakespeare regurgitar ao rabiscarem seus
sonetos munidos de seus tocos de lápis ou pedaços de carvão.
Uma vez, tive a ousadia de
dizer entre amigos que não gostava e nem lia poesia. Sim, eram tempos de trevas
para este que vos escreve. Hoje assumo a importância de se ler mais poesia. Mas
mesmo ali naquela fase de cegueira poética, escrevia meus parcos versinhos em
homenagem a Ela, e Ela foi educada a tal ponto que me elogiou. Ela, era sábia,
não se critica um Drummond de primeira viagem. Ah! Quantos crimes se cometem
nome da poesia.
Ela, a minha primeira musa,
não se encantou por aquele pobre rapaz carente de vitaminas líricas.
Hoje
Ela
É quase noiva
Pois é,
Ela ainda noiva
Se bobear já noivou
O namorado d’Ela ou agora noivo
não tem cara de quem escreve ou que lê
nem que faz rimas, odes, sonetos e madrigais enquanto
a espera sair da aula
O atual noivo
d’Ela
tem carrão
mora na parte de cima
e é formado em
direito
como todo mundo
Hoje
Ela, não vale o poema ruim que inspira.
É curioso. Assim como o
primeiro verso do poeta de fim de semana, essa crônica inteira me floresceu
entre os dedos assim que vi a tal foto, e daí ele foi se antecipando e tomou a
frente de outro relato que eu iria escrever: Um sobre a minha carreira de
radialista, essa, foi bem mais duradoura e prolifica que a de poeta, durou
cinco dias de minha adolescência.
Cid Brasil
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