(Franco Matticchio) |
Nunca
imaginei como me portaria diante do inevitável reencontro.
Se houvesse saído de
casa com essa suspeita, teria ao menos calçado um sapato mais bonito. – É isso!
Vou me despedir de minha companhia com promessas de que voltarei logo, ‘pois
vou só trocar de sapato’. – Não, não adianta fazer isso, ou agir como se
estivesse numa festa. Sou o único que não posso fingir, pois existe alguém
neste salão que me tem. Lamento pelo ‘está-é-a-última-carta-que-te-envio.’,
escrito e enviado semana passada. É nisso que penso enquanto sigo o garçom.
A
sabedora de meus sentimentos está na extremidade esquerda desse quadrado, e
sabe que só existe uma pessoa dentre as quatrocentas e vinte e duas almas aqui
confinadas que seria capaz de arranjar desde um vinho decente até inventar
histórias que a fizessem sorrir ou mesmo pedir que a banda parasse e que todos se
calem por um minuto em respeito a ela que tem dor de cabeça... E esse
convidado, não é o grandão que cochicha em seu ouvido neste momento. Quando me
vejo no espelho do banheiro não é um filme que assisto diante dos meus olhos –
apesar de todos os clichês possíveis de uma festa de casamento – Mas sim um
livro contendo todas as minhas falas, frases e pensamentos durante o tempo que
estive com ela. Até mesmo as intermináveis ligações pela manhã estão lá
transcritas – assim como os meus tropeços na língua portuguesa como: Confundir
eminente com iminente - O epílogo contem todos os bilhetes, bilhetinhos,
guardanapos, e-mails, sinais de fumaça, trabalhos e despachos que fiz. – Ao
retornar, a única coisa iminente neste salão é nosso reencontro.
Vou
cair, é o que penso, pois sustento muita coisa está noite. Agora também uma cabeça
contendo olhos e sorrisos de uma desconhecida que nada sabe.
(Eu
deveria ter imaginado que numa cidade desse tamanho, qualquer objeto com o
sobrenome de ‘silva’ pode ser cunhada do joão grandão que a entrelaça, e que
era até capaz da moça ao meu lado não ser só prima da noiva como também colega
de colégio da protagonista de minhas lembranças).
O
mundo não é cruel ou pequeno. É só novelesco demais. Penso ao entornar o
vinho horroroso deste lugar.
Quando
a moça retira a cabeça de meu ombro e me apresenta a dona do rosto com nariz
alongado que eu seria capaz de desenhar até com o pé esquerdo, finjo surpresa.
Fingimos. Mesmo sabendo coisas demais um do outo. O inconveniente do lado de lá
(dela) do front fulmina dizendo: ‘Amor, você não disse que o conhece?’, e como
todo mundo neste lugar, entoamos frases amarelas com sorrisos feitos: ‘Sim...
Cidade pequena’; ‘É... Cidade pequena’; ‘Essa cidade é um ovo...’. A minha doce
companhia me esfaqueia pelas costas ao perguntar sobre quando eles – O Grandão
e a dona do nariz que até hoje cato em sósias na rua - irão se casar. Antes que
o moço com cara de bobo a minha frente possa responder e também levar algo meu.
Digo que meus sapatos estão me matando. ‘Esperem um pouco. Volto já!’.
Não está
chovendo como gostaria. E apesar da hora, sigo pela calçada junto de homens de calção
e chuteira, moças com câmeras e rapazes carregando violões. Todos brincando
numa noite de sábado de algo que não são.
Cid
Brasil
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