(Emiliano Ponzi) |
Tem dias que só falta abrir o computador e a crônica já estar lá,
noutros só com cesariana no teclado, mas tem aqueles em que ela só falta se enroscar
em nossas pernas no meio da tarde, da rua ou da sala. Dia desses, me sentindo
devedor também com quem já não lê ou escreve crônicas, fui até um lugar que
basta uma caminhada por ele para brotar pensamentos de “Amor & morte” e
entre dribles por moradas alheias, percebi de longe, algo como um cata-vento girando,
girando, girando... Já perto de onde jaz o senhor: Adelmo de Medeiros França vi
que se tratava de três círculos de diferentes tamanhos, suas cores eram compostas
por fitas coloridas presas do aro até o centro de cada circulo que quando
giravam formavam uma espécie de aquarela.
Talvez aquilo fosse criação do próprio senhor ali descansando, ou
algo que ele gostasse muito de ficar olhando enquanto desfiava fios de
pensamentos sobre os mistérios existentes abaixo das nuvens, ou aquilo
simplesmente pode ter sido fincado ali por algum amigo gaiato do senhor Adelmo,
lhe pregando assim uma última peça. Como eu nunca vi nada igual em shoppings ou
feiras de artesanatos com climas de shopping, aposto que aquilo lá é mesmo
invenção do senhor Adelmo de França, que pela foto perto do seu nome tem mesmo
cara de professor pardal – É mais um para coleção de “Avôs que gostaria de
ter”.
A residência do senhor Adelmo e de meus entes, tem uma cara de
parque que não existe em Maceió. Possui um silêncio que nem o culto da igreja
evangélica ao lado consegue atrapalhar. Os vivos gritam suas preces, que eu
imagino que eles é que devem se incomodar com o silêncio do lado de cá, se
irritando por verem no vizinho uma metáfora para suas perguntas. Não contentes,
naquela tarde desafinava por lá uma banda gospel tão melódica quanto os ‘Sex
Pistols’.
“Seria a vida só isso?”. É a pergunta que pela quinta vez me faço
desde que entrei, percebo um senhor sentado num banco olhando para a dança que
cinco eucaliptos fazem, estaria ele fazendo as mesmas perguntas que eu? Em pleno
sábado, próximo das seis da tarde, num país tropical só existe o senhor do
banco para me tirar essa dúvida naquele lugar. Como eu, é possível que ele
também diga: “Que bonito!” para os eucaliptos já negros a frente do céu cinza
desta tarde. Foi por me ver dizendo o que aquele senhor representava para mim a
quinze metros, que imaginei possuirmos as mesmas dúvidas sobre as fichas do fliperama
da existência.
Ele deve pensar: Tem gente que dá a volta ao mundo, beija mulheres
espetaculares, tem filhos, publica livros, mora na praia ou em Paris e no fim
ainda faz a mesma pergunta: “É só isso?”. E eu: Enquanto outros devem chegar
aos oitenta do segundo tempo, sem nunca terem saído desse bairro simplesmente
por que ainda não viram todos os movimentos que um eucalipto faz enquanto perde
suas folhas através dos humores dos ventos, e que no fim ainda desenham com os
lábios dizendo: “Que bonito!”.
Foi só na volta, que percebi o cata-vento do senhor Adelmo.
Cid Brasil
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