(Giorgio de Chirico) |
Aqueles que mandam nos calar perante o William Bonner; os que
bocejam nos passeios; os que cedem as tentações; os que usam apenas da força;
os primeiros a saltarem do barco; aqueles que nunca estão em casa mesmo quando
estão; os que não voltam quando precisamos – E quando voltam é porque precisam
de nos; aqueles a quem um abraço é mais caro que um carro e um olhar mais
dolorido que qualquer palavra... São
eles os representantes do lado falho e demasiadamente humano de nossas casas: O
meu foi tudo isso. Tinha muitos amigos ele, mas só me lembro de um que foi até
mais além nesses quesitos.
***
Ele chegou: Cara de menino ainda, cabelo na testa, camisa folgada e
com uma criança no colo; sua esposa devia ter um ano menos que ele. “Esse é meu
filho!”. Fiz aquele meneio de cabeça que fica ‘entre o não entendi e o
espanto’. “É meu filho!”. Ele repetiu.
Dalvan tinha quinze anos quando me apresentou seu filho. Até ali, a
coisa mais importante que eu tinha feito, havia sido uma atuar numa montagem
teatral onde fazia de maneira canhestra um alcoólatra, um personagem torto e
desiludido: Um pouco parecido com o pai que Dalvan teve.
“Eu quero ser o pai que nunca tive.”, foi o que ele falou, quando perguntei
como era tudo aquilo para ele.
O meu, só me deu um abraço de verdade quando eu tinha a idade em
que o Dalvan foi pai: Foi meu presente surpresa numa festa idem. O Dalvan, eu imagino que nunca recebeu um abraço de seu pai. O pai do Dalvan e o meu eram
amigos. Só me lembro hoje do amigo de meu pai por causa do Dalvan.
Dia desses, eu reencontrei o menino Dalvan; estava com dezenove
anos, já pertinho dos vinte. Não era mais o menino que vinha aqui na minha
casa, ou adolescente desajeitado que me mostrou seu filho há quatro anos;
talvez por isso eu não tenha reconhecido de imediato aquele moço de voz grossa
que foi logo me dando um abraço igual o meu pai no meu aniversário. Perguntei
logo pelo seu filho e sua esposa. “Em casa e bem”. Senti a satisfação quando
lhe perguntei mais por eles, suas respostas foram mais sinceras que o seu
abraço.
É pelo Dalvan que acredito que a geração ‘noventa’ irá pelo menos
render pais melhores do que os que tivemos. Pelo menos.
Não escolhemos os nossos e também, creio que não trocaríamos. Hoje, se não fosse os quinze anos de gritos e tapas até Dalvan ter um filho, quem
sabe ele não seria capaz de ainda lamentar que o seu pai não tenha conhecido o
seu neto. E eu, se não fossem um pouco
dos erros e arrependimentos do seu Donatilio Soares Martins, é possível que eu
não estivesse aqui escrevendo e lembrando todas as vezes em que sonhei com
aquele abraço.
Não recordo quem falou que quando se é pai, se perde até o direito
de morrer. O meu, infelizmente desrespeitou até essa máxima. No entanto não é
com mágoas que me lembro dele, mas sim com saudades.
Cid Brasil
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