quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ÁGUA, CHÁ E CAFÉ



(Jan De Maesschalck)



Dias de pouca ação externa. Noites de tédio infinitamente superior a estranha saudade do calor que nos abraça – a parte a nossa eterna insatisfação crônica de tudo – dá para entender um pouco melhor os irmãos Suecos, Suíços e Noruegueses mestres da depressão onde o inimigo não é o estado ou o deus sol, mas sim eles mesmos em dias cor de chumbo.


Dias perfeitos para se fazer visitas também, embora quase nunca fazemos justamente pela preguiça ou pelo medo do incomodo que o guarda-chuva pode causar em tapetes e sapatos alheios.


-- Magina. Entra! Chá ou café?


Tanto faz, só queria um pouco de prosa e o teu teto como lençol. Me conte histórias! Fale do teu dia (ou desse ante dia) diga do que lembrou, pois chuva só traz lembranças, nem que seja do que agente nunca viveu e só viu em filmes do Woody Allen.


Hoje mesmo atravessei a Avenida Falecida, fazia tempo que não fazia isso. Necessidade. E lá pela décima cara azeda que me fitava, olhei para o canteiro central e percebi que lhe mudaram a grama e a cor. Parecia mais verde, mais viva, maior! E sem o risco no meio que percorri até onde ele se bifurcava, possível momento de separação de casais ou transeuntes. Ninguém deve mais ter ficado triste, pois o caminho sumiu. Foi há quase um ano atrás, numa segunda de carnaval onde basta dizer que estava sóbrio para que me veja. Agora, neste recuerdo, só me veem água, pingos de chuva e lágrimas. Mas não teve nada disso, vai ver que foi só a vontade dessas coisas que era tanta, que liguei o chuveiro quando cheguei em casa e fiquei lá...


Ali, uma parte de mim deve ter escorrido. Depois disso devo ter ido ler (vê como um dia na internet nunca faz parte de nossos álbuns?)


E você? Me conte algo? Pode ser até aquela vez em que você recebeu alta do hospital e não tinha ninguém que ficasse contigo. – Sua mãe disse que dos abestalhados de nossa sala, eu era o mais responsável. O que tinha mais cara de que ia virar gente. Baita heresia. E pediu para ficar contigo. – Jogamos Bomberman 4 e aquele jogo de zumbi até a própria TV confundir os personagens, e passarmos a desejar avidamente os pedaços de óleos solidificados que o patrão da sua mãe vendia como pastéis. Chovia, choveu e chove todas vez que me lembro. Era o dia do meu aniversário. Nunca te disse isso. Vê? Por isso é bom voltar. 


E você conta isso de uma forma tão bonita.


Mas e agora? O que você faz nos raros dias de água dentro e fora de ti?

Cid Brasil

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