segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

EU



(Gerald Thomas)



Eu, dono das opiniões mais erradas, dos piores julgamentos e açoites sobre mim. Human being tão careta em relação as drogas que comecei a beber aos vinte e parei aos vinte e quatro, sou um grande admirador de pás viradas como: Paulo César Peréio, Adriano Imperador, Peter Sellers e Jack Nicholson.


Eu, dono de contradições bem mais atrozes do que estás. Romântico incurável e Dom Quixote das paixões impossíveis, morro de medo de relações claustrofóbicas. Eu, que nem sei onde quero chegar com minha vida ou está crônica sou um catador de sentidos diários que me levem a frente, a escrever mais e a me manter em sã consciência – mesmo sem ter qualquer consciência do que isso signifique num mundo ausente de ordem, progresso e até mesmo de sentidos.


Eu, grande memorialista de fatos, datas e rostos inúteis e um completo alienado das próprias promessas juradas como tatuagens. Um total descrente em qualquer coletivo que não um time de futebol e Robinson Crusoé que em alguns dias evite sair da toca para encontrar a pegada de seu querido Sexta-Feira, continuo botando a maior fé que a humanidade – eu inclusive – sairemos de toda essa ego mania alucinada, e deixaremos de pronunciar tanto eu, eu, eu, eu e passaremos a (tentar) olhar mais para o vizinho.

Eu, que escrevo isso numa loja de conveniência de um posto de gasolina buscando a conveniência de um café com leite melhor que o meu, sou percebido por uma senhora em posse de uma latinha de cerveja nas mãos que na escritura do parágrafo acima me encarou a menos de um metro do vidro que nos separava e conversou comigo, ou apenas mexemos as bocas, a minha com dentes amarelos, a dela só amarela, sem dizermos realmente nada. Talvez tenha me pedido dois reais, ou perguntado o que é real. Fiz um gesto que não entendia, ela apenas riu. Deu dois goles em sua brahma quente e antes de desistir de mim, me ofereceu um gole. “Tchau!”.


***


O que me encanta no ser humano às vezes é isso, que mesmo sem perceber estamos sempre buscando no ordinário de nossas rotinas alguma ilusão, mais uma cerveja ou outro café com leite que nos encorajem a ir atrás de novos sonhos e paixões.

E principalmente de novos nós para desatar.



Cid Brasil

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