(Hieronymus Bosch) |
Diz a bíblia (esse livro tão citado quanto realmente lido): “Quando
(...) deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens.
(...) Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita (...) teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará
publicamente”.
Devo admitir que o governo do estado de Alagoas, se valeu por muito
tempo de tal passagem bíblica listada a partir de Mateus 6. Tanto, que esconderam tão bem a esmola, que nem a direita
(a própria direita!) e muito menos a esquerda (a própria esquerda), nem
tampouco nossos olhos ou os ouvidos ouviram por oito anos, qualquer barulho de
corneta ou níquel pingado em nossos chapéus.
No entanto, contrariando questa
passagem, alguém que não mora em Alagoas, mas que trabalha para o dono das mãos
que esconde seus feitos tão bem – até de si – teve a brilhante ideia de
finalmente fazer tocar os trombones, as sanfonas e os pandeiros. Para isso, convocaram
até um músico como garoto propaganda dessa orquestra invisível (que segundo este
jovem cronista, trata-se do único cidadão conhecedor de cor e salteado de nosso
hino). Aos olhos da esquerda, a única coisa escondida foram os ouros que deve
ter ganhado não só o cantor como os atores e civis que interpretam fábulas em
HD sobre casas recebidas em troca de feijões mágicos, auxilio a dependentes químicos
de docinhos da vovó, grandes indústrias que por aqui fabricam sonhos e tapetes
voadores apelidados de rodovias.
Como se não bastasse tamanha ostentação de película, utilizam
verdadeiras ameaças veladas como moral de cada história: “É só vir aqui para ver!” ou “hoje
foram os três porquinhos, amanhã pode ser você”.
Dura trinta segundos a visão do paraíso.
Assim como outras formigas do reino do era uma vez, eu fui
um dos que não conseguiram dormir após comer a maçã envenenada. E meu maior
medo é que no próximo tratado televisivo os publicitários, digo, os trovadores
e os grilos não só nos ameacem com a trombeta do inferno em punho, como bradem:
“Não reclame! Você já se perguntou como vivem os personagens do Maranhão?”.
O verdadeiro ficcionista mor (e fichinha em citações) William
Shakespeare – que em outras ficções é até colocado como um dos autores do livro
dono da citação que abre essa crônica – encerra a vida de seu protagonista em
sua farsa sobre outro reino podre da seguinte forma: “O resto é silêncio”.
Talvez seja o que as madrastas e os lobos queiram.
Cid Brasil
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