(Louis Draper) |
Devo estar há mais ou menos, duas horas, com um e-mail para
responder de um amigo. Ele acabou de separar. Seis meses foi o que durou seu
casamento. Lá ele conta que mais caro do que a televisão comprada para embalar
dias de tédio, é aquele carnê cheio de prestações chamado felicidade que ambos,
ela e ele, terão de cancelar. Mas seu maior incomodo, é que no tempo em que
conviveu com a esposa, a única vez em que ela disse que o amava, foi na última
conversa dos dois. “Te amo, mas não dá mais...”. Foi o que ouviu como adeus. Me
confidenciou que havia sinceridade em toda aquela frase.
Mesmo tendo minhas desconfianças com a velocidade que essa frase é
disparada em alguns casos e casais, tenho certeza de que ela foi sincera. Por
que quando verbalizamos muito que amamos alguém, falamos isso para si e para os
outros, menos para o outro. Dizer eu te amo é dizer que ama dizer eu te amo. O
maior eu te amo é o não dito, o não escrito e o não tatuado. O maior eu te amo
é dito numa linguagem de libras através dos olhos, de um gesto ou mesmo de um
silêncio. Demonstrar isso mais de uma vez ao longo do dia é mais difícil do que
demonstrar isso ao longo de uma vida mais de uma vez. Sim, pode-se verbalizar,
gritar ou espernear que se ama alguém, até por que há pessoas que carecem disso:
De ouvir, de dizer... Mas sejamos francos e não fracos: Ouvir um eu te amo
burocrata, dito por um funcionário da vida, é como beber aquelas xerox de suco
de maracujá com pastel na rua e chamar aquilo de refeição.
O grande romântico de 14 anos chamado Alcides, Indiana Jones dos
amores platônicos, vivia não só espalhando eu te amo por aí, em cartas e
ouvidos, como achava que se mudava alguém por amor – mal sabia o rapaz que
‘mudar’ é o contrário de amar.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano, percorrendo as ruas da América
Latina – Esse continente onde mais se sofre do que se vive o amor – leu num
muro no Chile a pichação: “Eu nos amo!”. Prefiro essa, creio que se fosse para
espalhar esse pregão, melhor seria se assim, unificando essa instituição cada
vez mais segregada chamada casal. Brás Cubas celebre persona do Machado de
Assis disse que Marcela, sua namorada “o amou durante quinze meses e onze
contos de réis!” – O próprio Machado também escreveu que “muitas vezes uma só
hora é a representação de uma vida inteira”. A da minha vida seria agora, de
frente para uma tela em branco; carente de boas palavras para meu amigo, ou
bons conselhos – Coisa que sempre detestei: Ouvi-los e dá-los. Talvez por que
sempre os seguia...
Creio que assim como repetimos amores, palavras e clichês, mais
necessário ainda seja ter fé de que outros amores, palavras e clichês nos
esperam. – Para o mal ou para o amor, ainda que de nos mesmos.
Cid Brasil
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