Nesse banco pode ter sentado muito gente. O pai de alguém
importante, a irmã de alguém importante e até o próprio cidadão importante. Por
ora, esse moço é anônimo. Neste banco também pode ter acontecido que algum
senhor gordo ao jogar um osso de borracha para seu cão, ter descoberto que a
felicidade do cão ao ir pegar o osso e voltar, era a alegria de saber que o
dono estaria lá, alegria essa que ficava no páreo com aquele medo de o dono não
estar mais lá; o gordo deve ter pensado que aquela é uma emoção de criança: A
mesma que ele não sentia mais, por estar a tanto tempo longe da família ou da
cidade natal. Pode, tudo pode ter acontecido neste banco da ‘Plaza Rodriguez
Peña’ na Avenida Callao em Buenos Aires. É bem possível também que ‘una chica’
de uns quatorze anos tenha gazeado aula, e ao invés de se aventurar por outras ‘calles’
e avenidas ‘de la Recoleta’ ficou a tarde toda aqui sentada neste banco,
contando as dobras em sua saia de colegial enquanto enumerava as dúvidas sobre
seu futuro, se angustiando sobre o que seria dela: Menina tão prendada e
obediente. Nada.
Nada também pode ter acontecido aqui. Nenhum velho ter adormecido
ao ponto de começar a babar, acordar e pensar que ninguém viu nada e adormecer
de novo e babar e acordar e pensar: Nada, ninguém viu nada. Sim, ninguém também
deve ter percebido que se ficarmos muito parados nesse ou em qualquer banco da ‘Plaza
de Rodrigues Peña’, não só ninguém vem nos importunar, como os pombos chegam
para bicar ‘nuestros’ sapatos numa estranha cumplicidade. Falando em sapatos, alguém pode ter sentado
aqui e amaldiçoado até os antepassados do senhor Nicólas Rodrigues Peña, que
fez tanta coisa como lutar contra a invasão inglesa e emprestar seu nome a este
lugar, mas não fez nada contra as sujeiras dos cachorros e dos donos dos “perros”
que não limpam as sujeiras dos cachorros fazendo com que atrapalhem a caminhada
não só de belas moças, como de brasileiros distraídos que ficam olhando las
chicas, los viejos, las niñas y los perros.
E enquanto esse moço limpa os pés nas pequenas pedrinhas laranjas
da ‘Plaza Rodriguez Peña’, acha tudo tão bonitamente desordenado, sujo e
poético que já nem reclama mais de nada. Apenas fica vendo tudo e nada
acontecer em plena ‘Plaza Rodriguez Peña’ e se dizendo que aquilo tudo ali na
verdade representa ele. Até não achar a caneta no bolso. Mesmo sabendo que ela
estava no bolso. Era um sinal, ele pensa. Tudo era um sinal que era para se sentar
ali e olhar.
Estranhamente pensa: Essa praça deveria se chamar ‘Plaza Once’.
Seria mais bonito. Tem nada não, na minha crônica ela se chamara ‘Plaza Once’ e
nela um monte de coisas vai acontecer. – Inclusive nada.
Cid Brasil
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