(Nesskain) |
Escrevo essa crônica da rodoviária do Tiete em São Paulo, palco de
chegadas, despedidas, expressos a oito reais e de outros gatunos; no café onde
escrevo há um imenso piano no meio do salão, o piano, ao contrário do café é de
graça. Como nem tudo é perfeito, o moço que balança os dedos em cima das teclas
nesse momento, nos brinda com o tema do filme Titanic. Uma mulher ao final
aplaude, ele se levanta e faz uma reverencia tímida. Fazem um meneio de cabeça
e ele se vai.
Gostaria muito de dizer que essa imagem de um piano de calda numa
rodoviária me comove, mas não. Não sinto nada por ela... Muito menos com a
imagem de outro casal a minha frente conversando com lágrimas nos olhos. Devem
terminar, ou a talvez recomecem.
Talvez eu tenha ficado saturado da imagem de casais se despedindo aos
domingos em estações de metro; vindo para cá, vi dois adolescentes que teimavam
em não se desgrudar. Ora ele ia depois voltava, depois ela fazia o mesmo, ambos
voltando com mais beijos e olhares dignos de derradeiros capitulo de novela.
***
Costumo dizer que não sou o mesmo do que um minuto atrás. Então,
que dirá de uma semana. Os primeiros parágrafos dessa crônica foram escritos
por outra pessoa, por outro eu, digo isso simplesmente porque acabo de trocar de
lado; trocar também abraços e palavras de carinho, trocar lágrimas escondidas e
novas dúvidas sobre o retorno. Sim, já entendo melhor os casais enganando a
breve eternidade da separação, - aquele rapaz lá do começo deve morar em
Guaianazes a menina nos Jardins, sei lá, nesses extremos. São Paulo é um mundo.
Então aqueles abraços, beijos e olhares que se repetiram umas cinco vezes num
domingo a tarde seguido de um adeus mudo, é mais que compreensível. É necessário.
As despedidas, em esquinas ou aeroportos trazem isso. Mas sempre acho que
também estamos nos despedindo de nos mesmos.
Me desdigo dentro de outro café, já de volta, acreditando agora que
mais do que enchentes, bombas atômicas, maremotos, tsunamis, dinossauros,
televisão, “te vejo só como amigo” ou qualquer outro tipo de tragédia, nada,
nada é mais devastador do que se despedir de alguém que amamos.
***
Caminhando para cá, um senhor na Av. Paulista, me parou e pediu um
dinheiro, disse que morava longe, em outra cidade, queria completar a
passagem... Dei, e interrompi seus agradecimentos lhe dizendo pra aplaudir quem
estiver no piano do café da rodoviária.
Cid Brasil
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