Quase todos os dias quando vejo o meu irmão, pergunto a ele: “E
então, fizesse algo digno de se estar em sua biografia ou de contar para
os netos?”. Digo isso já sabendo de antemão da canalhice que é perguntar
isso para qualquer mortal, quanto mais para um menino de quatorze anos. Ele nunca
me perguntou isso de volta. Mas se alguém ousasse, diria hoje que sim, que no
dia 26 de outubro de 2013 se eu fiz algo digno de ser lembrado por historiadores
(e até difamadores) de minha persona.
Adianto para aqueles de estômago fraco, de sensibilidade extrema,
que tenha medo de fantasmas, que sejam espiritas ou pobres de espírito, aquelas
estiverem afim desse cronista ou até mesmo se for a mãe dele, peço que por favor
parem por aqui. Ah, e se você for família de alguém chamada Esther O. Martinez
de Arrebalde também é bom que não leia mais esse texto.
*
Hoje foi um dia histórico para mim, não por que andei quase treze
quilometro a pé ou porque finalmente paguei um preço decente por um café com
leite em Buenos Aires (8 pesos), e muito menos porque uma chica disse que eu
era “hermoso” no metro. Mas sim porque meus caros, eu visitei a casa de pessoas
como o do escritor Adolfo Bioy Casares (amiguíssimo de J.L Borges), Evita Perón
e de Cosme Argerich que soube depois
ter sido um dos primeiros professores de medicina da Argentina, e todos esses
jazem no cemitério ‘de la Recoleta’, no bairro de mesmo nome. É um cemitério
como outro qualquer, desde que você não se importe ver pessoas batendo fotos de
tudo e de todos: Dos passantes xeretando os túmulos, das flores murchas, dos
jazigos tão decorados que fariam a inveja de muitos hotéis no Brasil, das
estatuas que decoram e zelam os túmulos. O túmulo da ex-primeira dama Evita
Perón é o mais procurado. Um senhor disse que o túmulo é mais visitado que o
próprio museu da coitada. Fico imaginando o imenso aborrecimento que dona Perón
e seus vizinhos menos abastados de fama e carisma devem passar com aquele
barulho, as piadas sobre ela, os fãs de Madonna (havia uma moça com a camisa da
cantora que a interpretou no cinema), com um desalmado fazendo xixi por de trás
do túmulo de sua amiga Esther Martinez e com os guias cobrando os olhos da cara
dos vivos por narrações da enciclopédia Barsa... O zelador do banheiro do
cemitério, que não cobra mas exige que se pague para usar o banheiro, garantiu
que a noite se escutam lamentos nas ruas adjacentes ao cemitério. Só não deve
ser o caso da rua de trás e de seus botecos abertos vinte e quatro horas.
Mas creio que Dona Evita e seus
‘cumpadritos’ devem reclamar que nem flores as pessoas levam, fazer planos para
afugentar os vendedores de balões ou até mesmo que Madona é Madona e Evita é
Evita. Ah, já ia esquecendo o tal do fato histórico tão alardeado lá no começo.
Nem vale a pena contar, tô com vergonha agora. Mas sabe o desalmado do xixi em pleno Cemitério de la Recoleta? – Então...
Cid Brasil
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