(Hieronymus Bosch) |
Todos naquele domingo
lanchavam sem peso na consciência e sem vazios existenciais ou monetários. Um
pensava que havia sido fácil defender aquela velha contra a loja de
eletrodomésticos; com o dinheiro da causa podia finalmente trocar de carro – A
velha, só teve a sanduicheira trocada por outra.
O de cabelos ralos
acreditava que tinha descoberto uma maneira de financiar sua campanha, seu
próximo grande passo, agora rumo a capital! – Cuscuz, carne, batata e café com
leite para que? – Se um pão com três bolachas e meio copo de leite resolvem.
Claro que resolvia. Resolvia até o lado dele.
Aumentar os preços? Sim,
antecipar os fornecedores. E promoções naqueles sucos em caixinha, mês que vem
viram lixo mesmo.
Louco é você? Eu? Eu não, é
que não tenho tempo rapaz. Semana que vem viajo pra Porto de Galinhas. E como
você vai fazer para apresentar? Ah, isso ele me ensina, paguei quase quatro mensalidades
do curso. Parece bom! Me dê o número dele, TCC é mesmo um saco. O cara vive
disso. É profissa!
Antes eles do eu. Não tenho
culpa de fanatismo de ninguém... Preocupam-se demais com futebol nesse estado.
Danem-se! Com o salário dos políticos e com as falcatruas deles ninguém se
preocupa. Mas com um penaltezinho aos quarenta e cinco...
Avise o gerente que
precisamos de mais cinco quilos de contra filé. Sim, acabou! Não me olhe assim
de novo... Tudo bem, menina, agente divide. Aquela peça tá enrolada lá atrás,
quando você for levar o lixo pra fora, você leva a peça e a esconde. Na saída
agente pega.
Certo! Só que hoje, não
poderei ir pra sua casa. Meu marido está desconfiando... Tudo bem, amanhã você
me entrega a minha parte. Pode deixar que aviso pro Seu Jair comprar mais filé.
Dá trinta reais e quarenta
e cinco centavos. Obrigado. Como? Ah, é verdade, desculpe! Dá dez reais e
quarenta e cinco centavos... É Que hoje estou meio desligado. – Hoje tá fogo!
Desse jeito, vou ter de pedir outro vale.
De repente, a porta faz
‘tlim!’ e um moço de boné e de bermuda interrompe todas essa vozes e
pensamentos. Olha para os lados e educadamente, pede que todos olhem para o
chão: É um assalto!
O seu plano dá errado. No
quinto celular que recolhe o advogado que tinha ido ao banheiro esquece que não
tem porte de arma e num movimento rápido (que irá mostrar zilhões de vezes para
os netos como se faz) rende o assaltante e toma a sua pistola de brinquedo.
O linchamento é geral.
No fim, após a cusparada da
menina da limpeza e os xingamentos do árbitro de futebol, discretamente o
advogado coloca no bolso da camisa do rapaz um cartão com o número e o nome de
seu filho que está iniciando na carreira.
Você vai precisar!
Cid Brasil
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