(Franco Matticchio) |
Uma hora e seis minutos da madrugada. De um quarto de hotel na
Calle Guido, 1780, em Buenos Aires, no bairro da Recoleta. Finalmente posso
dizer, três meses depois que comecei e sequer imaginei que diria ou escreveria
uma crônica chamada: Terminei. Clarice Lispector disse uma vez numa entrevista
que após terminar um livro sempre batia sobre ela um grande vazio; outros
escritores também já falaram isso. Não sei se o romance que acabei será grande,
se irá ser lido ou sequer publicado. Mas o fato é que posso dizer:
Terminei!
E o vazio? Havia sentido semanas atrás, quando pensei no final ideal
foi aí que senti, nesse dia após quase setenta de uma obstinação atroz, que
acabaria o tal livro, e que quando assim o fizesse, onde estivesse e a hora que
fosse, ao colocar as reticências finais que tanto queria, eu poderia dizer:
Terminei!
É estranho dizer isso, já que o vazio veio antes e as ideias para
novas histórias também; já tenho fôlego para outra batalha que será para
publicar essa história chamada “Grão de Paris”: Sobre um Ghost Writer que é
contratado para escrever as memórias de um coronel/governador de nosso estado e
que no meio do processo resolve sabotar o livro contando as verdades sobre o cidadão.
E dizer: Terminei! – Isso o protagonista não pode dizer, pois ele não terminou
o livro, já que ninguém o leu. No entanto, eu posso; de maneira tímida, entre
tantos outros anunciando grandes feitos pelo mundo; entre os jornais dando
manchetes sangrentas e repetidamente bombásticas; numa rua de vitrines lançando
últimas modas, e numa cidade junto de amigos erguendo seus primeiros rebentos,
seus diplomas suados e seus companheiros siliconados. – Todos merecidamente
orgulhosos. Eu que não tenho nada disso, posso ousar partilhar com os outros, uma
alegria bem menor, numa futura madrugada qualquer, algo bem pequeno, um quase
gozo, quase desabafo, quase grito que vem numa palavra agora acompanhada de uma
frase:
Terminei de escrever um romance.
O resto? Rende até outro livro. Mas por ora, quero apenas dar voz
aquela que foi a minha voz no “Grão de Paris” e que talvez, quem sabe, se a
sorte, deus, alguém ou um editor ajudar, será a voz de outros. Por ora, sou eu
que posso dizer.
Terminei!
Cid Brasil