quinta-feira, 12 de setembro de 2013

ESCREVER É ADOECER


(Ashley Mackenzie)



Você que me lê num celular, no vaso ou numa mesa de bar. Você é o único amigo que tenho, por isso quero lhe dizer uma coisa, por favor, não ria, estou doente, e não quero que passe. Na verdade, estou apaixonado. Mas agora, é por um livro que estou apaixonado.

Sou um calhamaço de ansiedade, nesses primeiros capítulos, padecendo dos mesmos sintomas. Quero pegar nele, lê-lo de novo, reescreve-lo, melhorar a ele – e a mim. Por que você está assim? É fulana, eu responderia – Resumindo tudo e dizendo nada. Mas nesse caso é diferente.

Falei dele pra um cidadão, e a maneira que ele encontrou de rir da minha cara foi dizer: “É preciso foco para se trabalhar num livro...” - Detesto a palavra foco e também quem chama escrever de trabalho: Pra escrever não é preciso foco, é necessário adoecer. É alimentar todo dia um psicopata escondido para que ele bata com fúria nas teclas, estrangulando canetas para que vomitem nas folhas. Tem de dar braçadas intensas usando só um braço num mar salgado. Por alguém? É igual, igual, você me dirá. Tem razão! E na tradução se assemelham por que precisam sempre de um: EU TE AMO bem colocado. - Dito baixinho com letras carregadas de fúria capazes de estourar tímpanos, caixas acústicas, taças e folhas despreparadas. Só estando assim.

Febril! – Febril era a palavra que me rondava. Claro que toda a febre por vezes padece. Concreta ou abstrata daí vem raiva, ódio ou asco por aquilo que minutos atrás te salvava. Não rasgue, não xingue, não mate e não fuja. Alimente também o câncer dentro de você e recomece. Ou espere. Pois mesmo sem perceber essa selvageria toda volta e novamente lá estarás pedindo perdão. No meu caso: Beijando e acariciando uma bola de ferro que outros muito mais talentosos e furiosos que eu apelidaram de escrever.

Escrevo esse texto caindo de sono. Triste e irritado. Triste e cansando. Cansado e irritado por que não pude sequer rabiscar uma misera linha no meu romance – Ou será que não quis? – São essas perguntas que me puxam da cama; tão caído estou que risco essa crônica em forma de oração para poder dormir, pra sonhar que escrevo. Se fosse uma mulher atravessada em mim, seria aqui todo madrugada por não ter visto, falado ou escrito por (e para) ela.

Eu não aprendo; ele não aprende; tu não aprendes e ninguém aprende segundo me contaram. Estar apaixonado é terminar um paragrafo e também vir o dia, é por uma vírgula em local errado e ser tudo o contrário. Mas trair, ninguém trai estando obcecado. - É a única vantagem e a única certeza que te dou. Com o meu livro não consigo sequer ler outros livros, ouvir outros literatos ou pensar em mais ninguém.

Escrever é só você com seus fantasmas, falando sozinho, bebendo cachaça (ou expresso) no ‘Grão de Paris’: Tudo na ânsia de dizer e ser ouvido. Dizendo e ouvindo as risadas. Repetindo, repetindo e repetindo: Me digam meus anjos, onde vocês estavam? E eles murmurando: Viu como é bom seu canalha?

Me entenda leitor, estou assim deslumbrado, por que o mais perto que cheguei do amor foi escrevendo. Então me perdoe, por que agora digo pela primeira vez com sinceridade: Estou sem palavras.

Cid Brasil

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