(William Mebane) |
Perto das cinco da tarde de quase todos os domingos paro de
escrever o que estiver escrevendo, pois lembro que ainda não almocei, então
tomo um banho, boto uma camisa limpa e antes de ir almoçar, fico errando pelas ruas de carro até o PF que me espera.
Tomo sempre os caminhos mais longos.
Um, é pelo Bairro do Bebedouro, onde entre usas ladeiras e casas
espremidas vou pensando nos personagens e no próprio Graciliano Ramos; sempre
presto atenção na sede dos Alcoólicos Anônimos com suas paredes gastas e sua
porta carcomida pela umidade... Tenho imensas vontades de descer do carro ao
passar em frente ao mirante, mas nunca faço, talvez por timidez ou fraqueza.
No entanto, o caminho que mais gosto é outro. Por outro
extremo até o Tabuleiro de minhas fomes.
Pela Via Expressa, ao entrar na Avenida Rotary, sigo
contando suas bancas de revista, padarias e farmácias fechadas e começo sempre
a pensar no romance que tanto quero escrever: Sobre uma história de amor que não
se realizou, sobre um personagem que pensa e reprisa todos os dias a última vez
em que viu uma mulher... Será uma história cheia de reticências, como na
vida... Então um pouco antes de entrar
na Avenida Menino Marcelo, me vem à mente uma determinada moça que deve passar
por essa rua diariamente.
Ao passar por dois prédios novos, já quase esquecidos, quase invisíveis, todas as vezes que os vejo tenho a heresia de imaginar que alguém dentro de algum daqueles apartamentos estará lendo alguma de minhas crônicas.
Ao passar por dois prédios novos, já quase esquecidos, quase invisíveis, todas as vezes que os vejo tenho a heresia de imaginar que alguém dentro de algum daqueles apartamentos estará lendo alguma de minhas crônicas.
Assim como o caminho pelo Bebedouro, nesse a um ponto falho
também, um lugar em que penso em parar todas às vezes, mas apenas penso: É uma
pequena banca de revistas chamada ‘Santa Quitéria’, no bairro da Serraria, tenho
vontade de entrar lá 15 anos depois e comprar um algum gibi do Cascão ou do
Chico Bento novamente, só para ouvir a risada do dono da banca, daquele senhor
cujo nome eu já não lembro. Evito, pois tenho medo de ouvir de algum filho ou
de um novo dono, que o senhor de bigodes brancos que aos sábados sempre errava
o meu troco por estar levemente embriagado, já não sorri mais.
E sigo... Deixando para trás a mais nova lembrança semanal
dos rostos dos meninos que jogavam fliperama comigo num boteco também nem
existe mais. E sigo... Deixando para trás também a Serraria com seus
apartamentos de corredores escuros e melancólicos que nunca visitei; deixando
para trás a casa daqueles meninos que julguei como sendo as melhores pessoas do
mundo em todos os sábados a tarde que ali passei - Mesmo que nunca tenha
visitado nenhuma de suas casas com corredores escuros e melancólicos. E sigo...
Digo que sigo, mas é mentira, pois ainda penso nessas pessoas
e mais uma vez irei lamentar, como na semana retrasada, por não ter escrito uma
crônica falando sobre eles quando já estiver passado pela banca...
***
Gostaria de escrever mais. Mas já são quatro e vinte e três
da tarde: Hora de ir.
Cid Brasil
Ao ler suas crônicas me pego viajando por elas quase sem querer parar de ler...não sei pq... elas me atraem,me sufocam de saudades do que não sei...simplesmente gosto!
ResponderExcluir