(René Magritte) |
Perguntaram-me desde quando eu escrevo: Antes das reticências de minhas respostas, penso que já fazia isso desde os seis anos de idade quando descobri o mal das saudades antecipadas: Foi no dia em que ganhei uma camisa da seleção com o numero oito nas costas, que de tão apertada eu sabia que ela não chegaria à gloriosa página sete de meus anos. Escrevo desde desse dia, aprendi que para se completar o circulo e atar as pontas soltas (para formar um oito) desses momentos é preciso coloca-los também no papel.
Eu escrevo porque não aprendi a rezar.
***
Ontem, telefonei para um alfarrábio de Minas Gerais para saber de
uma encomenda que fiz pela internet e que ainda não havia recebido, a mãe da proprietária
me atendeu: Dona Raquel, tem oitenta e dois anos e uma curiosidade de três; após
me ajudar, nós emendamos um papo de dez minutos, ao saber de minha idade, me disse
que os jovens deveriam aproveitar essa onda recente e fazerem também manifestações
consigo mesmos: Exigindo-se um aumento de lirismo, de sonhos e desejos. - Dona
Raquel também acha emergencial ter curiosidade em 2013. “Saberiam no mínimo o
que fazer no vestibular”.
Gostaria muito que Dona Raquel fosse minha avó. A minha avó é um
ano mais velha que Dona Raquel, e segundo minha avó duas coisas botaram essa
geração a perder: Maconha e celular.
A filha da minha avó sempre teve uma atitude que só agora entendo:
A cada arroubo de mudança meu, ela sempre doura as minhas pílulas, só hoje é
que percebo: Fazia isso para que se tornasse mais amena as minhas caminhadas,
ou mais frutífera e longa o meu retorno para Ítaca. Dos sofás dos anseios pode-se
tudo e minha mãe sempre aumentava o volume dos meus desejos. Por um tempo eu
fiz o contrário.
Aos poucos eu vou voltado a ser o rapaz de seis anos de idade que
não olhava o cardápio. Se hoje não puder pagar, lavo os pratos e assim terei o
gosto do que quis também em minhas mãos. Um dia eu falei, “eu quero um leão”.
Todo mundo riu. É para esse menino que quero voltar a desejar leões, pois foi
esse menino que me deu um caderno vermelho nesse ano e disse “desenhe aqui
aquele leão”. Eu havia perdido aquele menino num supermercado de niilismos.
Agradeço até a um deus que nem acredito por ter reencontrado o menino na seção
de ‘papelaria e matériais para escritório’, entre cartolinas, canetas, tintas e
cadernos com capas de cores quentes.
Digamos assim: Ontem eu queria um castelo, porque outros me diziam
para se querer um castelo.
Hoje dentro desse quartinho trancado só quero papel e caneta, mais
nada, pois neles construo e desmancho castelos, falo em leões e pessoas que
talvez nem existam, visto a camisa oito da seleção novamente, santifico obsessões,
levo a palavra que mais acho bonita para passear (Melancolia) e crio funerais
de circo ou quase finais... Não interessa. Hoje o meu sonho passa embaixo de qualquer
porta.
Cid Brasil
Finalmente encontrei alguém que escreve do jeitinho mesmo que eu gosto de ler!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Amei!
Quando eu crescer, quero ser mais ou menos assim.
;)
Abraços!!
www.emmylibra.blogspot.com