(Edward Hopper) |
Entro
em ruas, cruzo avenidas e durante o dia o que me guia são os ipês, amarelos, violáceos
ou vermelhos; contento-me com suas cores e a brevidade de suas vidas. Amanhã
grudarão nos meus tênis e depois alguém varrerá aquelas calçadas coloridas,
duram muito pouco, os ipês, o bastante para se chegar até a próxima esquina. Deviam
era vender essas árvores em caixinhas, penso agora. Só de escrever sobres eles,
me sinto calmo.
Com
as bibliotecas que vislumbro nas janelas, o que ocorre é o seguinte: Tento
saber aquilo que escreveriam seus escritores se soubessem o que escreveriam se escrevessem,
ou algo assim, como disse Marguerite Duras. Também os imagino como escritores
muito anônimos, como párocos de uma igreja só deles. Rezando, lendo, sonhando
coisas sob a batuta da famosa frase de Robert Walser, “de que quando dormimos é
que estamos mais perto de deus”. Eu acrescentaria que é quando lemos que
estamos mais perto de Kafka ou de Machado.
Sobre
os Cafés, é bom simplesmente descansar ao som de um café com leite e uma água
mineral; ao saber de um jazz ou da noticia de última hora na TV, que no fundo,
nos interessa menos que a conta. Cafés cuja existência deve-se mais a ilusão do
empresário inexperiente que o cometeu em ruelas esquecidas. Cafés ainda,
acredito, obra de alguma lavagem de dinheiro, combustível tão comum em nossa
cidade. Cafés vazios e de garçons despreparados. Cafés de criminosos para
outros delinquentes.
Cafés,
livros e ipês. Anoto com muito cuidado os nomes dessas ruas e como cheguei até
eles; anoto ainda os títulos que decifrei nas estantes dos outros; anoto o
berço de tal ipê; anoto tudo simplesmente para no dia seguinte, ver que não passavam
de simples miragens.
Cid
Brasil
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