(Robert Walser) |
Naquela obrigatória estante de livros perigosos, merece um
destaque, ainda que a palavra destaque aqui seja empregada com muita vergonha, o
romance Jakob Von Gunten, do Suíço Robert Walser – escritor dono de uma
biografia pessoal também mui peligrosa.
Jakob Von Gunten é o nome do protagonista desse romance em forma de diário suspenso
onde são relatadas as suas experiências no Instituto Benjamenta, uma escola de
mordomos; ou talvez seja melhor dizer uma
anti-escola, já que dia após dia só o que fazem é ensinar seus alunos a não esperarem muito de coisa alguma:
“Aqui se aprende muito pouco, faltam professores, e nós, rapazes do
Instituto Benjamenta, vamos dar em nada, ou seja, seremos coisa muito pequena e
secundária em nossa vida futura. As aulas a que assistimos visam sobretudo a inculcar-nos
paciência e obediência, duas qualidades que ensejam pouco ou mesmo nenhum
sucesso”.
O romance todo contém pequenas farpas em formas como está
acima que também ferem a nós, reles mortais presunçosos; são agulhas que se caíssem nas
mãos de qualquer simples estudante do ensino médio, ou de algum eterno universitário,
resultaria no terror absoluto de pais (“quando se é jovem, um zero à esquerda é
o que se deve ser, porque nada é mais pernicioso do que tornar-se alguma coisa muito
cedo”) e mestres (“há muito tempo o mundo gira em torno do dinheiro e não da
história”/ “não há nada que valha a pena almejar”).
E como sempre ocorre o contrário nesses casos, O Instituto
Benjamenta de Robert Walser ajudou na formação de vários escritores como Elias
Canetti, Enrique Vila-Matas e em especial um dos maiores, se não o maior,
escritor (e aluno) do século XX: Franz Kafka. Certamente o Tcheco foi um excelente aluno invisível e repetente do
instituto, principalmente quando lemos coisas como: “Só nas regiões inferiores
é que consigo respirar”. Lemos e não acreditamos que Walser é o mestre de Kafka. Mas é.
Um livro perigoso que certamente foi um dos incendiados pelos bombeiros de Fahrenheit 451, de Ray Bradbury e proibido pelo Grande Irmão de 1984, de George Orwell.
Um livro que não estará nas bibliotecas mais próximas de você. O
que muito deve agradar aos desejos de ocultação de seu autor (ao fim da vida Walser
não só se dedicou a escrever microcontos como os fazia numa letra cada vez mais
pequena), e apesar disso, peço a todos que sigam o conselho daquele outro
resenhista: Comprem, aluguem, peçam-no emprestado, roubem-no; mas leiam!
Cid Brasil
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