Uma
vez, na escola, pedi que um colega mais talentoso desenhasse um ar-condicionado
numa cartolina de papel como protesto para o calor que aguentávamos diariamente
no maldito terceiro ano. Ficou ensaiado que a piada fecharia seu ciclo quando o
diretor fizesse sua visita a nossa sala e eu pediria a ele que fechasse a
porta, pois havíamos finalmente conseguido um ar-condicionado. A cartolina foi
posta ao lado do quadro negro e tudo saiu como planejado. Mas sinceramente não me
lembro do resultado da brincadeira: Se funcionou, se fui suspenso ou qual a
reação do diretor.
Gosto
muito de debochar de gente grande. Ano passado mesmo, participei de um concurso
literário aqui em Alagoas; um concurso financiado pela Imprensa Oficial do
Estado. Mandei um romance sobre um ghost-writer contratado para escrever as
memórias do nosso governador, mas que ao invés disso resolve ridicularizar e expor
as falcatruas do excelentíssimo. No livro, meu personagem debocha dos artistas
e das próprias políticas culturas e sociais de nossa província. Age quase como
um bobo da corte. O romance se chamava: Se me matarem viro herói.
Falando
neles, nos bobos, logo ali, no período bizantino, um pré-requisito importante
para se candidatar ao cargo nas cortes europeias era que se possuísse algum
defeito físico, como uma corcunda ou estrabismo. Os bufões eram os únicos que
tinham direito a rir dos reis e da corte. Claro que às vezes (e imagino que
muitas vezes) apanhavam horrores e se hoje não sabemos o nome de nenhum bobo
importante, ao contrário dos reis – que ainda que en passant no colégio – são citados
por nossos professores de história, é porque nenhum palhaço virou herói.
Outro
dado curioso que a crônica de nossos antepassados relata é que alguns candidatos
mais desesperados se deformavam de propósito ou quebravam as costelas para caprichar
no personagem e ganhar a simpatia do rei. Atualmente, nessa lenta idade média
chamada século XXI, ouso dizer que a recessão chegou até no setor da comédia,
ao unificaram reis e bufões num só. Ainda assim, há esperança no sorriso
banguela diário da plebe, como por exemplo, no dia em que avistei o antigo
governador do estado, Teotônio Vilela Filho, na livraria de um shopping
folheando uma biografia do cantor Michael Jackson. Vilela ficou longos minutos
olhando uma foto que retratava as transformações pelas quais Michael Jackson
passou. Uma senhora ao meu lado, apreciando a mesma cena, comentou: “Bem que
nosso governador podia procurar o mesmo cirurgião plástico e ficar mais bonitinho,
não é?”.
O meu
finado romance começava com a seguinte frase: “O lugar mais seguro para se
viver em Alagoas é dentro de um livro”. No concurso, fui esnobado
olimpicamente. Se ganhasse e meu romance fosse publicado sob a tutela do
próprio estado, certamente a piada se completaria e o diretor, ou o governador,
entraria na sala eu lhe pediria que fechasse a porta da classe para que não nos
escapasse o ar – ou o riso.
Cid
Brasil
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