(Franco Matticchio) |
Neste momento: Alguém deve caminhar sozinho por ruas de um bairro
desconhecido – por causa de um crime, por causa de um arrependimento, por causa
de uma dor ou simplesmente por uns quilos a mais. Neste momento também deve
estar ocorrendo uma grande festa que nem você leitor, nem eu (escritor) fomos
convidados. E pior – nessa festa! – o que deve estar sendo celebrado é
justamente a nossa ausência. Ou muito pior: Sua eterna paixão – aquela que você
renega até para si em alguns momentos – pode ser ela a dona da festa.
Gente morrendo, gente nascendo, gente fazendo amor, gente desfazendo
amor. Neste momento também pode acontecer de uma criança ver desabrochar a
vontade de sair por aí, feito andarilho – claro que isso pode ocorrer: Se
existe gente que nesse momento sonha com algo eterno, como um emprego, por que
não pode ocorrer de uma criança descobrir que gostaria de passar todos os seus
momentos embaixo de uma lua diferente?
Uma coleção de momentos pode estar sendo aberto neste momento. Para
o azar ou sorte de alguém que reviste o velho álbum de fotos que tem como titulo a
palavra que mais se repete nesta crônica.
Muita coisa também pode estar sendo apagada neste momento, como por
exemplo, um ódio, ou antes, uma luz dentro de uma sala com dois seres que se
odeiam e lá: Do escuro deles, as respectivas epidermes podem se tocar e aí...
Aí é melhor deixar eles pra lá. Um cachorro pode estar se dilacerando de saudade
de frente para uma porta; enquanto seu vizinho menos lírico a protege. Neste
momento é bem possível que ao passar a coberta em redor da esposa e dos filhos nesta casa,
um homem descubra que tudo não passou de teatro: Até ele. Principalmente ele. E
os abandone para sempre. Por quê? Para quê? Quem sabe para que de manhã não
brotem novas uniões, novos porquês, novos afetos e um artista no caçula que virá
a ser o grande gênio das artes plásticas.
Gosto de pensar que neste momento pessoas devem estar sendo
entretidas e ensinadas por meio de histórias num lugar horroroso como o Taiti
ou Pindoba, assim como gosto de pensar que neste momento Mário Vargas Llosa pode
estar escrevendo um novo romance para gente ler.
Pode também algum peixinho esquecer de tudo neste momento. E neste
também. E neste momento. E... E neste momento seu dono o invejar profundamente.
“Mas se o dono do peixinho é deus?” pode neste momento alguma leitora se
perguntar. É... Isso também pode ocorrer neste momento.
Cid Brasil
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