O pai
abraça o filho num claro movimento destreinado – ainda que natural como os
pássaros ao vigiarem o ninho –, a mãe tão elegante em seu cansaço observa tudo
a frente da mesa, bebendo uma coca-cola. O amigo da família segura um violão, o
clique o prendeu num tom inimaginavelmente sério – talvez se lembre do filho
que abandonou em outra cidade.
Junto
deles outras crianças terminam os parabéns...
***
Pela
segunda vez na minha vida, caio na besteira de olhar com atenção aquela foto. A
primeira vez foi quando a descobri. E a única conclusão que chego é que por
causa dela e desses dois encontros, entendo melhor porque tanto Hollywood quanto
a Disney ou as novelas da globo nunca me roubaram uma lágrima,; assim como os
desfiles de carnaval, as aberturas de jogos olímpicos e outras ditaduras da
alegria nunca me disseram nada.
Ao
contrário, o meu profundo respeito é devotado as pequenas cenas, aos times
derrotados, aos excluídos das melhores rodas e festinhas, aos que varrem os
confetes, aos alunos do fundo da sala, aos alfarrábios, as piores notas... E
também as casas sem reboco, aos refrigerantes com canudinhos, aos verdadeiros
artistas marginais, aos que viajam de ônibus só com uma asa de frango na
barriga, aos farofeiros de domingo, ao mendigo daqui da esquina e a tudo aquilo
revestido pelo sépia acidental do tempo e da indiferença.
Assim
como aqueles que buscam a vida inteira reviver o único abraço do pai no colo
dos outros – embora nunca peçam.
Devolvo
a foto para a caixa que abrirei no futuro. Que ela descanse. Que ela não se
corrompa perante o cotidiano. E que no nosso terceiro encontro, novamente me de
conta de que meu único luxo é a solidão.
Cid
Brasil
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