(Brad Holland) |
-- Você por aqui?
-- Ué? Qual o problema?
Isso é um ônibus, hoje é segunda, seis e meia da noite. Todo mundo está aqui.
-- Ah, tá. Agora essa?
Nunca vi você andar de ônibus...
-- Agora ando. Ou melhor:
Fico parado em ônibus. E outra! Esse é o único lugar em que posso conversar
contigo já que não atende minhas ligações e nem responde minhas mensagens.
-- Então? Diga o que você
quer? Voltar? A única maneira de voltarmos é só esse ônibus fizer o retorno
agora mesmo. De resto, se você quiser recomeçar procure outra Jasmim.
-- Mas você já é outra
Jasmim. Já se passaram dois anos...
-- E você suponho que seja
outro Alcindo, não é mesmo? Só que outro fazendo as mesmas criancices do velho
Alcindo: Me seguindo, me ligando no natal e no meu aniversário, me mandando
mensagens de madrugada...
-- Mas eu sei que você não
quer voltar, Jasmim.
-- E o que você quer?
Espere: Recomeçar?
-- Não. Eu só queria te
ver, te enxergar assim mais de perto, ouvir tua voz, ver essas mechas que você
fez no cabelo... Sabe por que? Por que nos meus sonhos já parece outra Jasmim,
uma que é a cara da Charlote Gainsbourg.
-- Esse é o seu problema
Alcindo. Você leu demais...
-- Não entendo. Se a pessoa
lê demais se estraga; se ama demais se estraga; se dá muito a bunda se estraga;
se fuma muita maconha se estraga; se malha demais se estraga; tudo demais se
estraga... Qual é o problema?
-- Café... Café demais
também estraga, acabou com meu estomago.
-- O que?
-- Nada, Alcindo, sabe o
que é? Eu não quero que você viva uma ilusão.
-- Se de por satisfeita
então. Acabo de perder uma grande agora.
-- ?
-- Agora, a moça com a cara
da Charlote Gainsbourg que interpreta você nos meus sonhos, será uma completa
idiota, e depois é provável que no sonho de hoje, todas essas pessoas se
revoltem contra mim e queiram me bater. Ou na pior das hipóteses, entre no meio
desse diálogo um assaltante.
Nesse momento escuto um motor roncar, uma criança chorar e sinto um
calor insuportável. Duas meninas com cara de shopping e um moço com cara de
domingo me olham de canto de olho e trocam olhares galhofeiros, devo ter
dormido de boca aberta. Triste realidade... Já nem a beijo mais. Nem em sonhos.
Nem em crônicas...
Cid Brasil
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