(Henri de Toulouse-Lautrec) |
Ajeitou os seios que cansavam o tomara que caia, mirou aquela moça
branca cheia de sardas e disse que Magali não era um bom nome para uma
prostituta, “não dá tesão mulher!”. Mesmo assim Magali quis ser Magali também
ali; não viu sentido em usar tudo da Magali naquele lugar menos o nome. “Por
que outro nome? Mudava alguma coisa?”, se perguntou enquanto recebia a nova
farda: Minúscula, uns dois números a menos e de cores quentes contrastantes. E
as instruções: “Ao fim do dia, vinte por cento do apurado fica com a casa, para
custear as despesas.”
Não tinha o que esconder, das cinco da manhã até o meio dia vendia
pastéis na porta de uma faculdade, e de lá agora partia para a nova função, que
rendia um pouco mais. Cobrava quarenta reais para ouvir e se deitar com
qualquer um. “Trepar mulher; que se deitar, se deitar agente se deita sozinha!”,
escrachou a ‘Madrinha’, como era conhecida a grandalhona, dona daquele lugar que
não era apenas um bar, nem só bordel e tampouco casa de massagem como anunciava
o cartão – Embora dentro fosse tudo isso -, e a crise de identidade se estendia
bem além de sua fachada de simples residência, perseguia até os que ali
entravam, quando meses depois ao chegar nas faturas os valores de um certo: “Armarinho
Maravilha”. Todo mundo ali parecia ter o que esconder, até a ‘Madrinha’, que já
não tinha nem corpo, nem seios, nem ancas e muito menos idade para tão pouco
pano.
O primeiro cliente de Magali foi uma constante dos outros. “Até
aqui eles mentem?”, comentou com Valmira/Pâmela. Todos que nos quartos entravam
eram casados, importantes e carinhosos, mesmo aqueles sem marca de aliança, sem
marca nas roupas e sem marcas nos lábios. Por vezes aconteceu de alguns
meninos, clientes seus da manhã, dos pastéis, aparecerem lá; assim, como
aqueles nem tão meninos e nem tão simpáticos dizerem cheios de pudor: “Você por
aqui?” e ouvirem a mesma coisa de Magali, só num tom mais cínico e espontâneo.
A única coisa que Magali tinha de esconder era a idade, e também
seu sonho de um dia chegar finalmente a juntar o valor pedido pela justiça para
soltar o seu pai. As sextas gostava de ver a ‘Madrinha’ bem humorada por ver a
casa e o sofá cheio, soltar piadas, a melhor até agora havia sido: “Daqui a uns
anos agente vai vender é beijo na boca, e a macharada vai perguntar, toda
apaixonada, se agente também trepa!”
Cid Brasil
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