Segundo o wikipedia, doppelgänger é uma linda palavra alemã que significa, em termos
bem pobrinhos, sósia, cópia, um player two que anda por aí fazendo coisas
erradas – ou certas, dependendo se você for o vilão do jogo. “Interpretado
pelos místicos como sendo uma criatura sobrenatural”, diz a Barsa da Internet, “uma
cópia espiritual ou então um gêmeo demoníaco que traria confusão à vida da
pessoa”. Confusão. O motor de livros, ratos e homens.
Na literatura, das seis ou sete tramas
que mais se repetem a campeão talvez seja aquelas que narram uma procura por duplos,
por gêmeos, por respostas através do espelho onde a mensagem que pisca ao final
é mais ou menos igual a dos fliperamas: Insert Coin. Insira uma ficha para
continuar...
Um dos primeiros doppelgänger que tive o desprazer de
conhecer foi o famigerado Polystantion, o irmão Franksteniado de um dos
videogames mais populares do mundo, o Playstantion 1. O original rodava games
de última geração com qualidade gráfica de 32 megabytes em CD’s Rooms. Já o seu
Mister Hyde só recebia cartuchos de 8 bytes, cópias das cópias do Nitendinho, jogos
tétricos que não distraiam nem um garoto cego.
Milhares foram as crianças educadas
na dor e no desespero ao se depararem com o Polystantion em cima da cama ao
invés do primo rico da Sony®. Semelhantes a esses melancólicos, cuja primeira
aula sobre a vida e suas derrotas veio através da pirataria, milhares também
julgaram estar
fazendo um grande negócio ao comprar o amor de uma criança por cinquenta reais
na feira, ou no vale das sombras da infância.
O meu pai quase, quase, foi um desses, mas ele, nesse Mortal
Kombat dos equívocos conseguiu a proeza de se superar. Foi numa tarde cheio de
guaraná alcoólico na sua unidade de comando que ele telefonou para minha escola
dizendo que tinha comprado (arroto) o videogame (arroto) que eu tanto (arrotinho)
queria. No auge dos meus mal vividos e bem cariados doze anos aquela ligação
foi uma das grandes emoções que tive. Mas como cada fase sempre é precedida por
uma mais complicada...
Meu pai sabendo da insanidade que era presentear uma criança
com um Playstantion foi logo advertindo no telefone: Era usado o game e não
pode vir com os controles; admitiu que o conseguira como parte de uma divida
antiga com seu irmão, meu tio. E eu, do outro lado da linha quente, pensei logo
em Fabinho, meu primo. Pensei no dinheiro que meu tio, pai de Fabinho, devia
para o meu velho e pensei nos dois videogames que Fabinho tinha. Um Poly e um
Play. Algo como ter um celular lanterninha para os ladrões e um Iphone para exibir.
Fabinho tinha o Super-Homem e o Bizarro dos videogames.
Torci, enquanto corria para casa, para que meu pai houvesse (roubado) pego a
Coca-Cola e não a Astral-Cola virtual.
O abraço paterno e a declaração de amor incondicional podiam
esperar. Abri a porta do quarto e aquela brancura plástica de ficção-cientifica,
estava lá, reluzindo em cima da cama, metamorfoseado numa... Sanduicheira
grill, modelo bello pane, da Britânia®.
Meus tios eram desses que exibiam tudo de valor na estante da
sala e na correria, com umas a mais no seu processador, meu pai confundiu tudo
que vinha com um fio elétrico e acabou pegando o que mais brilhava na estante.
Game over.
Cid Brasil
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