(Marcello Mastroianni, em Divorcio à Italiana) |
Acho
que todo mundo queria ser amigo do Marcello Mastroianni, não é? Do Chico Buarque,
eu também queria ser amigo. Curiosamente do Graciliano Ramos, não. Nem tampouco queria ter sido amigo de Clóvis, um professor de música aqui da rua. Mas a verdade mesmo é que a única
coisa que nos podemos escolher (ao invés dos amigos, dos talentos e das dores)
é a série que queremos assistir, mas até isso tem limite, e esse limite é a
ganância dos produtores, que quando entra em cena, resolve esticar suas obras
até o último centavo da audiência.
Creio
que é por isso que só vejo a primeira temporada delas... Mas a vida é mais
comprida, então aguardemos os brindes surpresas. Ou os easter eggs. Ou as
participações especiais. Com isso de levar a vida, lembro de novo de Graciliano Ramos,
esse velho chato e imprescindível, que quando perguntava “como vai a vida?” e
alguém lhe dizia: “Vou levando”. Ele respondia,
com um sorriso matreiro na boca:
-- Vixe,
se tá ruim para mim que vou metendo, imagine para você que vai levando...
(Toda
vez que passo pela estátua dele, só me vem isso na cabeça: “Se tá ruim para mim
que vou levando, imagine para esse daí que é estátua e tem de ganhar a vida
tirando selfies...”).
Na verdade, eu não queria nem estar aqui bancando o
literato para vocês, o que eu queria mesmo era tocar guitarra, mas a vida me
colocou no caminho um Graciliano Ramos piadista como professor de música, o tal Clóvis, que após
a primeira semana de aula, vendo que ali não sairia nenhum Jimmy Hendrix, deu o
seguinte conselho para a turma:
--
Sabem o que é bom para amolecer os dedos no trato com o violão?
-- O
que professor? – perguntávamos, todos ávidos pelos seus ensinamentos de músico
de barzinho.
--
Lavar louça!
E lá íamos,
para sua cozinha, se atracar com pratos, copos e talheres, enquanto o professor
ficava falando “que a música era não sei o que lá de não sei o que...” dedilhando
um de nossos violões, vendo como cuidávamos de sua louça e pedindo que não molhássemos
muito o chão.
GRÁTIS,
NA LEITURA DESSA CRÔNICA: UMA LIÇÃO DO TIO NICANOR PARRA
“O
fazer artístico é basicamente:
1% Inspiração
2% Transpiração
97% Sorte”
Em outra
dessas aulas sobre como tirar gordura de panelas que vinham de brinde com as
aulas de violão, rimos bastante ao imaginar o que diabos o professor Clóvis pediria ao inocente que buscasse aulas de flauta doce.
E NA LEITURA DESSE TEXTO, ADQUIRA TAMBÉM: UMA LIÇÃO DE MORAL:
Sempre que você se martirizar por não ter os amigos ou os dons que pediu a deus na rifazinha da vida, pense no baterista que está até hoje tirando a poeira dos tapetes do professor.
Cid Brasil
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