(Foto: Revista New Yorker) |
Eu já
roubei livros. Hoje não mais. Mentira: Eu roubo livros sempre que os atendentes
estão distraídos ou sempre que os seguranças ficam me encarando só porque estou
ali aproveitando do ar-condicionado na maior inocência. Roubar livros só não é
mais fácil do que tomar cafezinho expresso de graça fingindo-se de pagador
distraído: Após beber, leve a xícara até o balcão e diga obrigado e saia na maior
cara de pau (óbvio que só funciona nos lugares onde se tem que pagar depois de
consumir; se tiver de pagar antes, pague, afinal, esperteza tem limites!) e se
a balconista disser que você ainda não pagou o café você bate a mão na testa e
diz: Aí, é mesmo, desculpa! Sua atitude visa plantar a dúvida, já que você não
está saindo de fininho, como um bandido. Foi educado e levou a sujeira até lá. Eu
é que me distraí, ela vai pensar e ainda vai agradecer seu gesto de devolver a
xícara no balcão. Mas venho até vós para falar da arte de roubar livros e não
da arte de tomar cafés após praticar a arte de roubar livros.
1 – Você
entra numa livraria já portando algum livro na mão, o ideal é estar com mais de
um livro– pois esses de casa terão de servir de estojo para o(s) que você irá
pegar na livraria – entrar com dois livros na mão são a perfeição (pois ninguém,
exceto um ladrão de livros com o furto fresquinho anda com três livros a
tiracolo por aí). Olhe as prateleiras, leia as lombadas, desdenhe dos livros de
gente da internet... Esses passos são importantíssimos para que você possa
sumir entre o público do estabelecimento perante deus e os funcionários. Quando
algo te interessar, ponha os livros que você já carrega embaixo do braço e
folhei o da prateleira. Importante: Nunca furte o primeiro que você pegou,
demore, leia vários até dar o bote certeiro que é o de puxar dois de uma vez e
devolver só um a prateleira. Seja rápido e atrapalhando ao mesmo tempo ao envolver
o da loja entre os da sua mão. Os seguranças não manjam se você entrou com dois
Kafkas e está saindo com um Joyce a mais... Livros, para eles, são como
seguranças de lojas para você: São todos idênticos uns aos outros.
2 – O ideal
é uma mochila nova para mostrar que você não é um pobretão, se você for mesmo
muito pobre e sua mochila for aqueles gatos atropelados, tem que ser aquelas sacolas
de papelão, grande e com alcinhas, de boutiques. Aqui o esquema é quase o mesmo
no quesito tempo e escolha. Leve cinco ou seis até o sofá naqueles espaços de
leitura que há em livrarias. Os cinco ou seis livros que você pegar tem de ser aqueles
que você quer muito ler ou ter. E em edições bacanas, caras! Porque se o livro
for ruim, dá para revender ou trocar por outros nos alfarrábios. A certa
altura, finja que vai pegar um caderno ou outra coisa na mochila e deixe-a
aberta: É ali que será posto o furto, mas um passo importante é não fechar o zíper
de imediato, calma... Folhei os outros quatro, ou três – no caso de você ter se
empolgado e colocado dois direto na mochila. Se for a sacola é mais fácil, ela
já estará aberta e o procedimento é igual. Câmeras de segurança em livrarias
são uma baita lenda. São iguais aqueles livros de pintores famosos: Mera
decoração do ambiente.
3 – Compre
um livro barato na livraria e logo em seguida finja-se de esquecido e volte lá.
Percorra as prateleiras e embolse algo de mais valor. Mesma maneira de agir e
pensar das outras duas situações.
Dica: Não
tema aquelas etiquetas magnéticas que ficam coladas nas contracapas dos livros
e que apitam nos sensores nas saídas: Aquilo é caro e os livreiros não colocam
em todos os livros, só em alguns e nos mais caros. Outra excelente dica é andar com
dinheiro para o caso de flagrante.
Cid Brasil
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