(Andy Warhol) |
“Picasso disse, eu faço dinheiro.E eu perguntei como e ele me pediu uma nota de um dólar,autografou e disse, agora ela vale dez!”Alejandro Jodorowsky
Este é
um daqueles relatos que a primeira vista pode parecer falso. Quem sabe o meu
drama continue a parecer mentira durante uma segunda conferida contra a luz do
sol, mas o que posso fazer se não puder contar aqui com a piedade de vocês.
Aliás, bem que essa história poderia ter como metáfora a piedade: A piedade
divina, a piedade humana ou a Piedade empresa de ônibus. Vamos as minhas
desgraças:
Como
todos sabem, trabalho como caixa de uma churrascaria e minha alienante rotina
consiste em atender telefones, bater contas, dar boa tarde, perguntar se é no
crédito ou no débito, iniciar uma conversinha fiada de dois minutos (com temas que
vão de futebol a vida sexual dos suricatos, devido ao canal plugado sempre no
History Channel) e passar e receber dinheiro... Claro que realizo isso com a
mais absoluta distração possível. Distraído, disse Leminski, venceremos. Distraído
também obtive ontem uma das primeiras derrotas do ano: Uma horrenda nota de cinquenta
reais falsificada, descontadas, no fim do expediente, de meus simplórios
honorários.
A magérrima
onça da marca d’água, vista contra o sol, era o espelho de minha cara de
palhaço. Onça tão mal desenhada como aquela só vi em tatuagens de presidiários.
Voltei para casa carregando aquela folha chamex no bolso. Havia peso nela, como
dizer que não: A vergonha, a humilhação, o prejuízo... Uma tonelada pesando no
bolso da calça e mais barata que a própria calça.
A
noite, argumentei com minha namorada que não tinha realmente me dado conta do
erro. Depois, buscando alguma compensação (financeira, lógico) enumeramos
alguns dos possíveis destinos para aquela Xerox de falsificação. Após descartar
o descarte e a ida ao banco para assinar o recibo de otário devolvendo o
dinheiro, chegamos a conclusão que uma nota falsa é também um enorme mapa de
pequenos tesouros escondidos, éramos um casal rico de possibilidades novamente,
ainda que o último caminho que ele primeiro nos levasse fosse até a cadeia:
a) Podíamos
passar nas grandes redes de supermercados, obtendo biscoitos e quitutes em
troca do papel colorido; b) Podíamos agir na lei de Hamurabi e trocar o papel
por papel, indo naquela livraria metida a besta do shopping; c) Podíamos inverter
os papeis, cometendo alguma barbeiragem de propósito no trânsito só para
subornar os guardas com dinheiro de pipoca; d) Podíamos transformar aquilo num eterno
passe livre de ônibus estendendo um vislumbre do figurante de dinheiro ao
cobrador que diria: “não tenho troco, desça aí mesmo pela frente” ou e)
Podíamos ir até a igreja mais próxima e fazer vários pedidos para deus, pedidos
urgentes! E no fim, depositar como dizimo o dinheiro obtendo assim não só a
realização de desejos apressados como também a satisfação de contemplar a
admiração dos fiéis ao redor para nossa generosidade...
Passamos
a madrugada nessas conjecturas para no fim, ver o dinheiro ser engolido por uma
maquininha de refrigerante na rodoviária local após três tentativas. Vinte latinhas
de coca-cola que certamente nos matarão de diabetes após termos cogitado, seriamente,
ludibriar deus e o diabo com cinquenta reais de mentira.
Cid
Brasil
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