(Rodrigo de Andrade) |
Antes
de mais nada: Detesto, abomino, sinto náuseas com qualquer tipo de bairrismos e
nordestinidades. Quis o destino que eu tivesse pais gaúchos, uma cara de
Paraguaio e nascesse em Maceió. Portanto, como diz o Roberto Bolaño (o
escritor, não o Chaves, peloamordedeus!): “A pátria de um escritor talvez sejam
seus livros ou sua biblioteca!” Portanto, sigamos.
Que se
sonhe com mansões com piscinas é normal. Que se sonhe com carreiras políticas em
Alagoas também. Até com empregos eternos e refrigerados é normal se sonhar. O
que não é normal é sonhar com arte ou com literatura – como venho sonhando
desesperadamente nós últimos anos. Exemplos: Viajei a pouco para três capitais
diferentes, São Paulo, Curitiba e Santiago no Chile e creio ter passado mais
tempo em sebos e alfarrábios do que em pontos turísticos, entre um e outro dava
longas caminhadas a pé, pensando em que? Em livros, em escritores e na
juventude de cada um dos que eu carregava na mochila. Pensava nos anos de formação.
Na solidão do apontamento de lápis e de ideias.
Agora
outro exemplo: Conversando com um amigo numa padaria que parecia saída de algum
filme brasileiro da década de setenta, ele, um ator que está tentando a sorte
em São Paulo, citou um jovem artista alagoano que está querendo aportar na
capital paulista para trabalhar com um consagrado artista brasileiro. Por fim,
acabamos falando do destino dos jovens artistas alagoanos que é mesmo dos
jovens goianos, baianos e acreanos, o de almejar São Paulo. O de ir a São
Paulo. O de ser devorado por São Paulo. E depois o de ser deglutido, para quem
sabe assim devorar São Paulo. Até os paulistas pensam assim. Eu já pensei
assim. Meu amigo pensa assim. O jovem artista com a passagem na mão pensa
assim. E até quando se está sumindo, anos depois, continua a se pensar assim. Depois o meu amigo, falando do rapaz no avião, perguntou e se perguntou
se valia a pena. Vale?
Fernando
Pessoa, naquela frase que já virou clichê, disse que “tudo vale a pena se a
alma não é pequena”. Nesse poema Pessoa fala do mar de Portugal, das lágrimas
derramadas pelos que ficavam, falava de idas e regressos. Para o meu amigo
falei que não. Que não valia a pena. Falei: Que se exploda São Paulo, que se
dane o grande mestre, que se foda os meios e as aparentes facilidades e o
público consumista de cultura de São Paulo.
Porque
o jovem artista, não rasga a passagem e fica em Maceió? Pensei. Porque não
devora livros e filmes aqui? Por que não pega seu celular e filma seus próprios
filmes, pinta suas telas e escreve seus poemas e romances aqui, na sala de
casa? Porque não improvisa e se afia e se arrisca nestas praias? Porque não
pega essa mixaria que os políticos dão para editais de cinema e literatura local
e provoca, ao invés de sujeitar-se? Porque só criam poodles ao invés de
bombas-relógios? Porque não esperar o convite Paulista? Para aí sim, esnobá-los.
Algo
vai mal. Os artistas vão mal. Alagoas, como sempre, vai mal. Talvez sonhar com
arte em Alagoas não seja errado, talvez seja o nosso destino, o nosso charme
extra. Fugir, como sempre, é que é o problema. Não atrapalhar, não desafinar e não vomitar no coral, também.
Cid
Brasil
Ótima reflexão, Cid!
ResponderExcluirNossas histórias precisam ser contadas a partir daqui.
Obrigado pelas palavras que trazes nesse texto.
Abraço
O titulo do seu texto me lembrou uma busca durante a viagem a Portugal.
ResponderExcluirPor lá comecei a ler "Retrato de um artista quando jovem" , depois abandonei por um"Retrato de um artista quando coisa" para começar a entender esse "retrato do alagoano quando artista". abraços. Boa semana!
Bruno! Obrigado querido, mais uma vez, obrigado meu amigo-leitor! (Penso agora no seu conterrâneo, Sidney Wanderley, e naquele livro dele que cê me mostrou, onde ele dedicava os poemas para seus dez leitores). Gosto demais quando você vem aqui, sempre atento, sempre generoso!
ExcluirAh, e parabéns pelo prêmio.
Sorte pra nós. Abraços!
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