(Ashley Mackenzie) |
Aos vinte e seis anos Olivia julgou que sua vida tinha dançado.
Dentro do barraco, naquele grande e calado domingo de sol, sentou-se num tronco
de madeira de frente para a lagoa que nem sabia o nome e se pôs a pensar no que
fazer. 1: Chorar. 2: Se matar ou 3: Pensar em sua mãe já que era aniversário
dela.
Ficou com a última. Acendeu um cigarro e lá pela terceira baforada ficou olhando a alma do
cigarro vagar a sua frente, pensando que talvez ali se desenhasse o fantasma de
sua mãe.
Pensou como ela deve ter se sentido no corredor daquele hospital ansiando
mais a morte do que o doutor. Pensou no rosto de sua velha no dia em que
anunciou que iria embora de casa com aquele caminhoneiro. Pensou no que não
disse na última vez que tinham se falado, justamente quando Olivia anunciou que
estava gravida de outro homem e que abortaria (“minha filha... Pelo amor de
deus” disse a velha pelo telefone e aquilo bastava para que Olivia calasse).
Pensou nas oportunidades que sua mãe não teve e das quais não lamentava. Pensou
no respeito que a mãe tinha pela foto do velho, poupando o ouvido dos filhos de
qualquer mágoa contra aquele bruto.
Talvez eu esteja pagando tudo o que fiz para ela, pensou.
Então começou a chorar, ao perceber que a única alegria que poderia
ter dado a sua mãe era não tê-la abandonado. Se levantou da imitação de banco e
quis mergulhar no vazio, acabar com tudo ali mesmo, não dar trabalho ou
remorsos a ninguém. Cair, rolar, bater a cabeça até virar uma coisa só, até
virar perante outros olhos uma massa mulambenta de trapo e sangue, feia, muito
feia, que era como se sentia.
Na contagem regressiva, Olivia
pensou no sorriso que sua mãe dava quando algum ator de novela sorria na TV,
como se retribuísse o gracejo. Sorria como se ficasse alegre por receber tão
ilustre visita. Sua mãe sorria como se contracenar com o Lima Duarte ou o Francisco
Cuoco fosse sua vida.
Não pulou.
Cid Brasil
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