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(Juan Martínez Bengoechea) |
Foi num desses dias tristes. Que mais tristes ficam quando são aos sábados. Foi justo
no velório do meu quase sogro que eu me lembro de ter pensado ser uma baita
piada de mau gosto da vida, aquele homem falecer justo num sábado, dia que
tanto gostava e sua filha também. Não me perguntem de que esse homem morreu. Eu não sei, e
além do meu quase sogro não estar mais aqui, sua filha também partiu dessa para
uma melhor: Mora hoje em Madri segundo me disseram.
Estudei com essa menina apenas um ano e ficamos amigo por mais um e fomos namorados por dois minutos. No
dia em que o pai dela morreu, ela me puxou num canto escondido e me deu um
beijo na boca. Deu outro e pôs fim ao nosso romance: Disse que estava indo
embora... As irmãs já sabiam da doença do pai, a mãe a mais tempo ainda e ela, a
caçula, soube no instante em que viu o pai desmaiar. Em instantes ela soube também que
uma tia de Sampa iria acolhe-las no luto e na nova luta. Fiquei tão besta com os
beijos no velório que nem perguntei para que cidade ou para quando iriam, ou mesmo
se quando conheci o meu quase sogro se ele já estava doente. Só no dia
seguinte, com o velho já enterrado e o meu amor enlutado num São Geraldo foi
que pensei nisso tudo.
No dia seguinte, mesmo sabendo que ela já tinha ido embora de Maceió,
telefonei para a casa dela sem ainda saber o que dizer depois do nosso
começo e fim. Hoje, com o que vivi aquele dia, diria: Olha, desde criança eu sei
que estou condenado a esta terra, a ficar aqui com minha mãe, com meu outro
irmão, cuidando deles e eles de mim, mas se um dia você voltar... Se voltar me procura,
me procura que é provável que agente se trombe na rua e estejamos com o mesmo
objetivo na cabeça, que é me encontrar. Tá bom?
Achei estranho o telefone chamar com a casa vazia e a placa de
vende-se na porta. Não me perguntem por que chamava, nem eu sei se a família esqueceu
o aparelho de telefone em casa – tampouco me interessa, prefiro botar na conta
do enigmático da vida, essa humorista de primeira, como diz o Roberto Bolaño.
Voltei para a minha casa de mãos dadas com a necessidade de desabafar. Contei essa história (até aqui) para uma senhora que trabalhava lá em casa, a
Tânia, e a Tânia disse: “Alcides, tenha calma, se até as conchinhas do mar
voltam a se encontrar, porque não duas pessoas?”. Eu, que até aquele quilometro
quinze, já tinha perdido tanta gente, me conformei com mais aquela perda.
A Tânia foi baba do meu irmãozinho, era uma senhora curiosa,
como os sábados tristes e a vida. Muito vaidosa, vivia se pintando, indo no
salão toda santa folga e vivia fazendo dieta e cantando umas músicas do Roberto
Carlos com um olhar ausente enquanto meu irmão revirava a casa. Quando ela
disse isso, tomei essa com guaraná e aprendi não só o porquê de tanto esmero em sua figura, como a razão das saudades do que nunca mais o mar devolve.
Cid Brasil
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